*Rangel Alves da Costa
Aboiolado, o vigário Florinaldo lançou o
olhar meloso sobre Jureminha e sentiu um estremecimento por dentro. Ato
contínuo, e sob paga bem paga, e Jureminha já estava contratado como sacristão.
Nunca se viu sacristão ser contratado, mas assim aconteceu para regozijo do
espertalhão. Sabedor das intenções maliciosas do vigário, o novo sacristão tudo
fazia para não entrar na sacristia, ainda que o padre o chamasse para dividir
vinhos e queijos. O safado dizia que sabia ser pecado um sacristão beber além
do vinho, mas só gostava mesmo de pinga de balcão. Evitando o da batina, o que
Jureminha fazia era ainda mais pecador. Logo armou uma estratégia mirabolante
para ganhar mais dinheiro ali mesmo na igreja. Às escondidas, passou vender
“hóstia sagrada da salvação”, escrever bilhetes para os santos entregarem no
céu, cobrar caro para que as beatas ouvissem, ao vivo, a voz dos santos (ele
mesmo falando por trás de panos). Estava dando tudo certo, mas eis que
Jureminha não deu sorte no acerto que quis fazer com o ceguinho que pedia
esmola na igreja. Ameaçou expulsá-lo acaso não dividisse com ele toda a esmola
do dia. O ceguinho argumentou que não podia, pois já dividia a esmola recebida
com o vigário. Mas Jureminha exigiu sua metade. Vendo-se sem saída, o ceguinho
cuidou de enviar um bilhete para a Diocese, e relatando ao bispo que o
sacristão estava exigindo todo o dinheiro da esmola. Mentiu, é verdade, mas
isso causou um desacerto danado a Jureminha. Não demorou muito e o vigário
recebeu uma missiva com selo eclesiástico com a seguinte ordem, a ser cumprida
de pronto: Excomungue o Sacristão! O padre só faltou desmaiar com a ordem
recebida. O sacristão era Jureminha, e ele tinha uma caída pelo religioso
serviçal, e fazer o que, então? No dia seguinte enviou a resposta ao bispo: O
Sacristão foi Excomungado! Mas tudo de mentira. Jureminha continuou sacristão e
o ceguinho teve que lhe repassar, diariamente, trinta por cento da esmola
recebida. Contudo, o ceguinho esperto, começou a esconder a maior parte da
esmola. Tomando conhecimento do fato, Jureminha quase mata o pedinte de tapa e
por enforcamento, ali mesmo na porta da igreja. Foi preso e passou mais de três
meses atrás do xilindró. O vigário, não suportando a ausência do safado, pediu
pra ser transferido para outra paróquia. Ao sair da prisão, Jureminha começou a
pular a janela da balofa mãe do delegado. Aí é que a coisa foi feia...
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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