Rangel Alves da Costa*
Eis o princípio da igualdade entre os sexos
levado a efeito. Não é mais somente do homem a iniciativa de flertar,
galantear, paquerar a mulher. O que se mantinha enraizado como verdadeira
cultura amorosa, vem se mostrando com feição até mesmo inesperada ante uma
sociedade ainda com ranços conservadores. Fato é que hoje em dia – e cada vez
mais - elas, as mulheres, também paqueram, dão em cima dos homens, chamam para
si a expressão de um desejo que se mantinha escondido.
Desde muito que tenho conhecimento daquelas
mulheres de mais idade, também chamadas coroas, adentrando na selva masculina
em busca de presa. A prática, costumeira e conhecida demais, consistia em
frequentar sozinhas os bares e outros ambientes onde homens jovens e
descomprometidos costumam bebericar. Chegavam, estacionavam seus carros logo
adiante, de modo premeditamente visível, e pediam um drinque enquanto seus
olhos começavam a passear. Dificilmente saíam de tais ambientes sem uma
companhia para um instante de entrega carnal.
Não se tratava de prostituição, pois a presa
era atraída apenas para uma aventura noturna, sem paga nem recebimento, a não
ser dos prazeres consequentes da investida. Apenas uma mulher solteira e solitária
que resolvia ir atrás da fruição de seus instintos. Ora, já não estava com
idade de namoricos, de sonhos adolescentes, mas tão somente de ficar por um
instante, de curtir as casualidades que a noite oferece. Só havia um problema
nisso tudo: se ela gostasse do homem então a coisa desandava de tal modo que
virava paixão e perseguição.
Situações assim sempre existiram, mas o
costume prevalecente na sociedade era de que somente ao homem cabia flertar a
mulher. Por mais que ela desejasse, não era visto como algo respeitoso que
manifestasse seus desejos perante o homem. Consequência disso eram mocinhas
entristecidas pelas janelas, esperando seus príncipes encantados passar para os
suspiros da alma e o desalento do coração. Era socialmente inaceitável que desse
um psiu, que fizesse um aceno diferenciado, que piscasse o olho naquela
intencionalidade tão conhecida, que desse conhecimento ao homem de seu amoroso
martírio.
Já o homem sempre pôde tudo nesta seara.
Basta determinada mulher passar, com características corporais e físicas que
aticem sua volúpia, e logo estará lançando aquele olhar que tira a roupa e a
possui ali mesmo. Dá psiu, chama de boazuda, de gostosa, ou simplesmente se
comporta de tal modo que quaisquer palavras seriam desnecessárias. Comumente a
mulher passa e o olhar continua fixo acompanhando seu andar, como se aquele
traseiro fosse algo muito além que uma bunda.
Mas se, no âmbito biológico, os instintos, os
desejos e as vontades, não se diferenciam entre macho e fêmea, então por que
seriam diferentes no âmbito comportamental? Simplesmente pelo conservadorismo
que agora vem sucumbindo de vez no reino das presas e predadores. Atualmente
também a mulher, e não acentuadamente o homem, está tomando a iniciativa pelas
paqueras, pelas cantadas, pelas buscas amorosas. E tudo consequência de uma
juventude feminina que se cansou de ser apenas a escolhida. Agora vai em cima
sem rodeios nem meias palavras.
Neste sentido, presenciei um fato
interessante alguns dias atrás. Eu estava numa festa no interior sergipano
quando ouvi uma mocinha praticamente chamando um jovem aos “finalmentes”. O
rapaz passou e ela, ainda diante dele, não mediu palavras: “Eita, isso é que é
homem bonito e gostoso. Muita areia pro meu caminhãozinho...”. Ele passou, e
surpreendido apenas sorriu timidamente. E ela continuou suspirando, com um
olhar de procura e de esperança.
Não sei se depois ele retornou. Acho que não.
Havia mulher demais querendo areia pro seu caminhãozinho.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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