SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Palavra Solta: na janela, em noite de chuva...


Rangel Alves da Costa*


Já fiquei assim, na janela, em noite de chuva. E sei que muita gente fica assim também. Mas não é qualquer um que suporta tomar tal atitude. É preciso ter coragem para enfrentar as consequências de tal decisão. O problema não é abrir a janela depois do anoitecer, não é se posicionar no umbral, não é sentir a chuva caindo ou até receber na face os vapores molhados. Nada disso, pois tudo muito normal e corriqueiro. O problema todo reside na intencionalidade do ato. Dependendo do estado de espírito, da predisposição da alma ou da fluência dos sentimentos, o simples fato de abrir a janela tendo o negrume à frente já é certeza de encontrar a tristeza, a angústia, a dor, o desalento. E quando chove lá fora tudo complica ainda mais. A cada gota que cai é como se surgisse uma recordação, a cada pingo que canta é como se uma imagem surgisse, a cada respingo recebido é como se um beijo de um amor distante viesse matar a saudade. Uma poesia terna, porém de dor e de sofrimento. Ao redor do negrume e da chuva aquela solidão reprimida, aquela face quase oculta gritando por dentro, aquele ser tomado de lágrimas. E tudo numa só enxurrada: na chuva lá fora, na chuva por dentro. E os cântaros se enchem de uma palavra molhada e muda que vai repetindo saudade, saudade, saudade...


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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