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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Palavra Solta: não, não estou triste, é que...


Rangel Alves da Costa*


Não estou triste. Já fui muito triste e hoje talvez apenas tristonho de vez em quando. Dizem que sofrer caleja, petrifica, acaba insensibilizando o ser. Não creio nisso não. Quando a tristeza quer simplesmente chega e desanda tudo. A rocha esfarela, o ferro enferruja, o diamante se parte. Lembro-me como se fosse hoje da última vez que vivenciei uma tristeza grande, daquelas arrasadoras. E por besteira. Ela me ensinou a amar e depois partiu de minha vida. Ainda hoje os lenços estão estendidos no varal da memória. Mas hoje ao entardecer, alguém olhou em minha direção e perguntou por que eu estava tão tristeza. Surpreendido com a indagação, apenas disse que não, que estava apenas refletindo sobre a vida. Mas eu não estava triste mesmo, apenas tristonho. Ora, não ouço mais um canto de passarinho, não avisto mais borboletas entrando pela janela, não vejo mais colibri nem beija-flor, nem vejo jardim com flor. Também não encontro mais as manhãs de antigamente. Abro a janela e tudo já parece feio demais. Não há paisagem, não horizonte, não há montanha para o diálogo com Deus. Acendo minha vela junto ao oratório e fico me perguntando se a prece pode aliviar as dores do mundo. Tenho o silêncio como resposta. Mas sei que as dores de minha alma sim. E por isso entristeço no desejo de salvação das almas de outros homens. Sei que eles não desejam assim, não desejam a salvação, pois tiranizam na destruição. Mas por ser uma justa dor, aceito apenas entristecido tal sofrimento.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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