SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 29 de agosto de 2015

Palavra Solta: cais e mar no telhado


Rangel Alves da Costa*


Todas as vezes que deito e fico olhando pra cima, em direção ao telhado, encontro um mar, encontro um cais. E encontro muito mais. Há uma pedra molhada, uma onda que vai e que vem, uma gaivota sem rumo, dois barcos: um já muito distante, nas distâncias azuis, e o outro ainda na areia, à minha espera. É neste barco que viajo, que percorro ilhas, que encontro outros portos, que namoro sereias e rezo todas as preces do mundo nos momentos de tempestades. Mas nem sempre coloco o barco nas águas. De vez em quando sou gaivota voando distante, entrando e saindo das nuvens, indo além das marés para pousar no alto das montanhas verdejantes. E deixo de ser pássaro para ser fiel, deixou de ser o que sou para me prostrar ante Deus como um nada. E tão leve fico, tão fortalecido fico, que novamente alço pelos espaços cantando a cantiga de feliz passarinho. Quando não sigo no barco nem sou pássaro avoante, sou coqueiral de cais ou o silêncio das dunas. Às vezes sou concha, outras vezes sou apenas o vento. E como é boa esta paisagem no telhado, esta possibilidade surgida no pensamento e viajada por necessidade de sonhos bons. Adormeço, mas ainda me sinto lá em cima, no mar, no cais do telhado. E sempre acordo cheirando a maresia e entristecido porque no meu cais não há ninguém com flor à mão ou olhos molhados para o abraço de amor.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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