Rangel Alves da Costa*
Hamassa já dizia que quando a honra de um
homem é inatacável, fica-lhe decente qualquer roupa que vista. Por sua vez,
Charles Duclos afirmava que a honra é como a neve, que, perdida a sua brancura,
jamais se recupera. Neste sentido a expressão de Schopenhauer, para o qual a
glória deve ser conquistada; a honra, por sua vez, basta que não seja perdida.
Há, na reputação, uma espécie de brasão dignificando o seu portador e uma
espécie de chave abrindo as portas que deseje ultrapassar.
Mas Shakespeare dizia que a honra não passa
de uma palavra e que nesta há apenas vento. O poeta inglês talvez estivesse
contextualizando a honra perante os seus dramas entremeados de fragilidades
humanas. Não pode ser visto como futilidade um atributo que serve como
diferenciador do caráter humano. Tão importante a honra em um homem que a sua
desonra serve de empecilho a quase tudo que deseje alcançar e que dependa de
sua credibilidade.
Sob qualquer aspecto que se aviste a honra, o
que não se pode negar é o seu poder de diferenciar os homens segundo suas
atitudes éticas, morais e de responsabilidades perante os atos da vida. Com
efeito, não há nada que macule a decência daquele acobertado pela integridade
moral. A honra, por si só, já é escudo suficiente contra a lança maldosa que
contra si é lançada. Aquele que se reveste de honradez primeiro é reconhecido e
valorizado, para, somente depois, ser depurado e confirmado o seu caráter.
Assim, diferentemente de ser atributo de
menor significação, a honra é o que verdadeiramente sintetiza a dignidade do
ser humano na sua existência e nas relações sociais. Nela está a soma dos
conceitos positivos e negativos do homem perante a sociedade. Ademais, não há
nada que torne o sujeito mais respeitado que o seu conceito social. E isto
somente é possível através do merecimento alcançado pela conduta íntegra, pelo
caráter e pelas boas virtudes. É neste sentido que se afirma ter o homem
honrado o silêncio da inveja e da mentira e a voz retumbante da aceitação e do
consentimento.
Mas difícil avistar a roupa singela ou escudo
inatingível da honradez em tempos de negação dos valores e das grandes virtudes
humanas. O homem parece preferir a nudez ou encher-se de remendos ou vestes
outras a trajar aquilo que por nascimento e existência terrena lhe foi
destinado carregar como característica maior de sua dignidade. Parece mesmo que
a maioria dos indivíduos abdicou de vez da preservação de alguns de seus
valores mais preciosos. Conceitos como personalidade, honestidade, respeito,
seriedade e moralidade são cada vez mais relegados na conduta humana.
Na verdade, o ser humano vive remodelando seu
barro íntimo, sua base pessoal de existência, seu sustentáculo de vida. Não
para o fortalecimento daquelas virtudes inatas, daquele arcabouço moral e ético
que lhe é próprio desde o nascimento, mas para fragilizar-se cada vez mais. E
tal fragilidade o torna num ser propenso aos desvios de conduta, aos
descaminhos na moralidade, aos comportamentos mais aviltantes possíveis. Perdendo
sua natureza inata, logo se transforma num ser moldado pelas perigosas e
corrompidas conveniências.
Quer dizer, a honra nasceu com o homem, pois
característica inata de sua primeira existência. E com o mesmo homem deveria
ser conduzida para o norteamento de suas ações. E não só a honra como a
dignidade, a moral, o decoro, o respeito, a ética, a boa conduta, o senso
humanista de convívio. Contudo, quanto mais se desenvolveu física e
psicologicamente mais o homem desaprendeu a preservar seu instinto de honradez.
Sempre espelhado pelas falsas facilidades da vida e pelas oportunidades
ilícitas que chegam em profusão, acaba se deixando conduzir pelo viés de si
mesmo.
Como demonstrado, mesmo sendo virtude natural
ao homem, a honradez não é virtude encontrável na maioria das pessoas. Tão
difícil encontrar um homem honrado que se torna difícil de acreditar. Mas a
desonra não é privilégio do homem moderno, pois tudo indica que já era
característica muito presente desde os tempos mais antigos. E não era por outro
motivo que o filósofo Diógenes perambulava pelas ruas com uma lamparina em
busca de um só homem honesto.
Com efeito, em plena luz do dia e Diógenes
era encontrado com sua lanterna à mão procurando um homem íntegro, honrado,
honesto. Mas parece jamais ter encontrado, pois dizem que também começou a
farejar, à moda dos cães, em busca do mesmo homem. E se naquele tempo já havia
tamanha dificuldade, certamente que hoje nem todos os holofotes do mundo
encontrarão com facilidade aquele que seja inatacável na honradez.
Ter honradez não significa que a mesma seja
sempre inatacável. A própria sociedade cuidará de desonrar aquele cujas
virtudes éticas e morais contradigam ao comum da indecência, da imoralidade, do
indecoro. Por isso mesmo que em tempos de imoralidades, corrupções, degradações
de todos os tipos, melhor que o homem honrado se contente em apenas sê-lo
assim. E que o mundo não saiba, pois será sua desonra.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
CARO ESCRITOR DR. RANGEL, SE O VELHO E ILUSTRE "MENDIGO" DIÓGENES DAS TERRAS GREGAS FOSSE VIVO NESTES NOSSOS DIAS E RESOLVESSE FAZER UMA LONGA CAMINHADA NAS RUAS DO BRASIL, E EM ESPECIAL EM BRASÍLIA, TERIA QUE MANTER SUA LANTERNA ACESA POR MUITO TEMPO PARA VER SE CONSEGUIA DETECTAR O GRAU DE DESONESTIDADE EXISTENTE. NÃO SOU EU QUEM ESTÁ FALANDO, E SIM AS REDES SOCIAIS QUE (GRAÇAS A DEUS) NOS INFORMA TUDO, E EM BREVE TEMPO. ETA BRASIL DANADO CARO RANGEL!
Antonio Oliveira - Serrinha
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