SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 3 de setembro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 2


                                               Rangel Alves da Costa*


“Ainda está acordada?”.
“Estou...”.
“Estava aqui pensando...”.
“E eu viajando...”.
“Viajando?”.
“Sim. Viajando tão longe e tão perto”.
“Ainda bem que não teve de sair daqui...”.
“Se eu fosse levaria você...”.
“Pra onde?”.
“Ainda não sei...”.
“Mas eu sei onde queria ir com você...”.
“Pra onde?”.
“Pra o meio da chuva lá fora...”.
“Nunca mais tomei banho de chuva...”.
“Vamos sair pra debaixo da chuva?”.
“Chuva da noite é diferente...”.
“Por quê?”.
“Por que chega e cai de um modo diferente”.
“Também sinto isso...”.
“Tento fingir que não, mas...”.
“Mas fica tristinha, saudosa, melancólica, angustiada, não é mesmo?”.
“É. Não sei por que, mas fico assim mesmo. Você sente a mesma coisa?”.
“Sinto. E sinto muito mais...”.
“Mais o que?”.
“Não sei explicar bem, mas é uma vontade terrível de chorar, de gritar, de sair por aí...”.
“Debaixo da chuva?”.
“Sim. E correr no meio da noite, ir pro meio do mato...”.
“E por que surge essa vontade tão estranha?”.
“Não sei. Fuga, talvez...”.
“É mesmo terrível esse sentimento de fuga que surge de vez em quando. É como se a gente quisesse encontrar outra vida que não a nossa...”.
“Ouça!...”.
“Ouvir o que?”.
“A chuva batendo na vidraça...”.
“Fico tão triste ouvindo os pingos da chuva. E fico mais triste ainda com a vidraça embaçada...”.
“Eu também. Mas é mais triste ainda quando a gente está na chuva, vê a chuva na vidraça e do outro lado a aparência de alguém...”.
“E certamente carregado de solidão e angústia...”.
“Um dia avistei você assim, lembra?”.
“Mas eu estava triste mesmo. Três dias sem te ver, e você chega logo num dia de chuva...”.
“E fiquei do lado de fora, todo molhado, olhando pra janela...”.
“E depois gritou...”.
“Sim. E depois gritei e você veio. E naquele dia dançamos uma valsa, a valsa da chuva...”.
“E foi tão bom...”.
“Vamos dançar novamente?”.
“Vamos...”.
“Mas lá no fundo, no quintal...”.
“Apenas a valsa da chuva?”
“Também a melodia do amor...”.


  
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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