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domingo, 23 de setembro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 22

                           
                                       Rangel Alves da Costa*


“Noite de breu...”.
“A lua não veio, a energia não volta...”.
“O mundo lá fora no negrume total...”.
“Para tanto e tudo acontecerem...”.
“No escuro da noite e tantos olhos e tantos passos...”.
“Os noctívagos do amor, da solidão, do desconhecido...”.
“Não deixa de ser instigante...”.
“Realmente. No escuro e o luzir dos instintos...”.
“O bicho, o homem, a dúvida...”.
“Onde estarão agora?”.
“A resposta da noite: tão longe e tão perto...”.
“Se não fosse perigoso até que poderíamos sair um pouco”.
“Procurando o desconhecido?”.
“Não. A brisa da noite, os sons que se estendem...”.
“Não deixa de ser romântico...”.
“Em tudo há romantismo. Até a dor romantiza os sentimentos...”.
“Profundo...”.
“E real...”.
“Mas prefiro o romantismo amoroso...”.
“Romântico demais. Prefiro o romantismo cotidiano...”.
“Como assim?”.
“Os motivos que a vida nos apresenta são pinturas inacabadas...”.
“Nós artistas temos de finalizar o quadro...”.
“De forma alegre ou sombria...”.
“Dependendo da poesia ou da frieza do nosso olhar...”.
“Dependendo também da sensibilidade de cada um...”.
“Isso mesmo. Só consegue enxergar a realidade aquele que tem sensibilidade”.
“E coragem para conhecer a realidade...”.
“De outro modo corre-se o risco de prejulgar...”.
“Sim. Por exemplo, o menino da rua...”.
“O sofrimento de quem o encontra ou logo aferir uma culpa...”.
“Muitas vezes no próprio abandonado...”.
“Outro exemplo, a mão adiante que se estende em esmola...”.
“A aflição de quem a encontra ou o desdém na acolhida...”.
“Porque vai depender como a pessoa veja a pessoa ou a sua realidade, que muitas vezes é até mentirosa...”.
“Mas o lado humanista demais não atrapalha o correto discernimento da realidade social?”.
“Eis a questão. O humanismo exagerado tende a trazer para si todas as dores do mundo...”.
“E também um sofrimento que não leva a quase nada...”.
“Talvez apenas à satisfação íntima...”.
“Eis que muitos acham que ter piedade é ação espiritual que desobriga o ser humano de outras ações...”.
“Mas hei de dolorosamente reconhecer...”.
“Nossos erros, nossas culpas?...”.
“Sim. Enquanto seres humanos não passamos de fingidores...”.
“Talvez em busca de justificativa moral...”.
“Apenas isso, pois os sentimentos sempre nos fecham os olhos...”.
“Mas a maioria é completamente insensível...”.
“Não completamente. Até pode não sentir nenhum incômodo, mas duvido que não fique ressentido...”.
“Que bom fosse assim...”.
“Precisamos confiar nas pessoas...”.
“E elas em si mesmas. Que mundo diferente seria o das responsabilidades...”.
“São os caminhos tortos da vida...”.
“Aqueles mesmos que Deus ensinou como percorrê-los...”.
“Mas enfim...”.
“Vamos à janela procurar vaga-lumes”.
“Aqui na cidade?”.
“Não. No nosso olhar...”.
“Então é melhor encontrar estrelas aqui mesmo...”.
“A luz no amor...”



Poeta e cronista
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