SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 13


                                    Rangel Alves da Costa*


“Adormeci um pouquinho e sonhei sendo beijada”.
“Farei do sonho uma realidade agora mesmo...”.
“Mas era um beijo diferente...”.
“Mas não me diga que era daqueles lambidos, sugados, chupados...”.
“Seria pesadelo. Era um beijo diferente, tão ardentemente dado que o simples toque do lábio transportava à outra realidade...”.
“À realidade do amor, da paixão, do desejo...”.
“Não sei bem explicar, mas era mais que isso”.
“Um beijo em sua perfeição. O que seria, então?”.
“Algo como a síntese da plena felicidade...”.
“Tentarei compreender. O beijo que transpassa muito além da fruição do toque...”.
“Isso mesmo”.
“Bastando o toque do lábio, a junção da pele, para que a interação se transforme muito além da carícia amorosa...”.
“Porque eu não sentia o lábio tocando o lábio, mas...”.
“Mas como se o corpo inteiro fosse atingido pelo contato da boca. Como consequência a mente fruindo essa posse e transformando o desejo em algo inexplicável...”.
“Inexplicável porque saindo de mim, voando, alcançando o horizonte, subindo aos céus...”.
“Um delírio contagiante, uma fantasia gostosa, um passeio prazeroso, e tudo como se estivesse pelo ar”.
“Também, e ainda aquela sensação de libertação do corpo, de posse de todos os desejos, de possibilidade de infinitamente amar...”.
“Só há uma explicação para esse beijo sonhado e da forma como se fez no sonho”.
“E qual seria?”.
“Tudo parte do princípio maior do amor...”.
“E qual o princípio maior do amor?”.
“A verdade velada. Quem ama concebe interiormente toda a dimensão do seu amor. E não somente isto, pois a verdade velada que guarda interiormente o amor só é revelada quando o outro desfaz a bolha de sabão...”.
“Bolha de sabão?...”.
“Sim. O princípio da bolha de sabão. Explicarei. A pessoa que ama possui a mesma beleza da bolha de sabão, só que é mais bela ainda pelo lado de dentro. Os outros só conseguem enxergar o lado externo, reluzente da bolha, mas quem ama não, pois...”.
“Pois pode avistar além dessa parte exterior...”.
“Mais que isso. Não só pode avistar o seu interior como tem o dom de fazer com que a bolha de sabão se dissipe. E ao se dissipar, ao invés de quebrar a magia, tudo de belo que há por dentro se revela entre os dois”.
“Então o lábio seria como essa bolha de sabão?”.
“Sim. O lábio belo, gracioso, moreno, carnudo, todo mundo pode avistar e até desejar beijar. Contudo, somente quem ama pode quebrar essa magia da bolha...”.
“E tocando o lábio a bolha se dissipa e se faz aquela viagem que mencionei?”.
“Isso mesmo. O beijo de amor, aquele simples toque de lábio é tão significativo que faz com que lábio receptor se abra em portal para o inimaginável...”.
“E vá subindo, alcançando horizonte, céu...”.
“E tudo nasce assim a partir do mesmo princípio da dor, pois a sensação de dor não está no local afetado ou machucado, mas no cérebro. Assim também ocorre com o beijo e as transformações que ele provoca”.
“A boca apenas quer, o lábio apenas toca, mas o resto se perfaz interiormente, e daí extravasa segundo os sentimentos...”.
“Isso mesmo. A sensação do beijo é transmitida para o cérebro, e como todas as partes do corpo funcionam através do comando cerebral, então cada parte se arvora no direito de utilizar o beijo dado como melhor lhe aprouver...”.
“O coração, a pele, a sensação desejo, o despertar do sexo...”.
“E também fogos de artifício, trovões, relâmpagos, tempestades mentais...”.
“E também a insanidade, a perda da razão momentânea...”.
“Sim. Louco como estou agora, completamente louco, e já antes de beijar...”.
“Leva-me pertinho da lua?”



Poeta e cronista
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