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sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Palavra Solta: baús, retalhos e saudades


Rangel Alves da Costa*


Jurei que não sofreria mais, ao menos pelo olhar do passado. Mas impossível afastar-me da estrada quando todo o seu percurso ainda é presença constante. Não há como fugir da lembrança, da recordação e da presença do ido, quando o presente não se contenta em viver senão com o álbum do passado aberto. Daí que de repente me vejo diante de velhos baús, de retalhos, de memórias, de recortes e tudo aquilo cuja soma se chama nostalgia e relembrança. Geralmente depois do entardecer, quando as cores do horizonte começam a pincelar outros sentimentos, então me ponho ao reencontro do inseparável. Não, não queria encontrar agora, mas eis que surge uma fotografia antiga, em preto e branco, com um sorriso que já alegrou minha alma. Não, não queria sofrer agora, mas no fundo do baú adormece a carta já tantas vezes inundada de lágrimas. Apenas letras miúdas, apressadas, aflitas, ao final dizendo que logo voltaria, pois estava morrendo de saudades. Não, não queria padecer tanto agora, mas não posso deixar de avistar o velho diário de capa grossa e letras douradas e lá dentro, página a página, recortes da história familiar e demais histórias de um coração partido. Mas não adianta fechar o baú. Seus cadeados não existem nas trancas, mas ao sabor do vento que vem e esvoaça tudo. Talvez nem exista baú, mas apenas um coração nostálgico que guarda e resguarda o percurso de vida como um livro bom, porém doloroso, que precisa ser lido a cada dia. Nele a história, a vida. E tudo.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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