SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Palavra Solta: lágrimas


Rangel Alves da Costa*


Somos o clima de nós mesmos. Somos a atmosfera de nós mesmos. Somos a meteorologia de nós mesmos. Não há moça de tempo, não há termômetro, não há formação de nuvens que diga além do que podemos dizer a nós mesmos. Por que temos uma nuvem, por que temos gotas sólidas e líquidas, por que somos trovoadas, temporais, tempestades. Nossos olhares dizem tudo, nossos corações muito mais. Os sentimentos dissolvem as asperezas e de repente já estamos em prantos. E que belo é o pranto bem chorado, bem sentido, bem despejado. Que belo é o chorar autêntico, puro e tão verdadeiro. Que magia possui a lágrima que se deita na face, que se derrama pelo corpo e seguindo vai como num leito sem fim. Momentos de magia e encantamento são os da lágrima. Que ninguém compreenda, que neguem a correnteza ou desconheçam todas as razões. Mas a pessoa não se nega, o seu sentimento não nega. E o que basta à lágrima é ter sua fonte. Dum pequeno veio e um oceano. Por que assim? Pergunte ao espelho, pergunte à saudade, pergunte à recordação, pergunte ao doloroso silêncio e à flor murcha do entardecer. E seguindo vai pelo cais deserto, passo a passo na areia molhada, juntar sua gota d’água à imensidão que se estende adiante. Não partiu nem naufragou, apenas a vida que se banha um pouco para limpar o espelho da alma.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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