SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Palavra Solta: silêncio e voz


Rangel Alves da Costa*


De um lado o silêncio e de outro a voz. Uma casa ora de porta aberta ora de porta fechada. Uma feição sorridente, mas depois entristecida. O olhar de pranto que logo se revela aberto ao sol. Uma fronteira ultrapassada, uma margem rompida. Assim o silêncio, assim a voz. As palavras soltas, ávidas por expressão, por ecos e sons, mas a inércia no lábio e o adormecimento da boca. A voz possui seus motivos para silenciar. Muitas vezes o espanto esconde o grito, a dor esconde a palavra, o instante não sabe o que dizer, o pensamento continua escolhendo a melhor expressão. Enquanto isso, apenas o silêncio torturante querendo falar. Ou a voz cansada de dizer querendo calar. Eis o sofrimento maior da palavra: adormecida no silêncio e abruptamente despertada pela expressão, pelo grito, pelo murmúrio. Dependendo da situação, preferia jamais pronunciar qualquer coisa. Ademais, coisas existem que não precisam de palavras: o amor, o carinho, a amizade, a afeição. Dizer que ama, que sente é amigo ou possui profunda afeição, nem sempre se expressa tão verdadeiramente quanto o apenas ser nem nada dizer. A existência não necessita da voz à mesma proporção que precisa do silêncio. Este reflete o sentimento do ser. E o que o homem sente jamais é expressado na mesma proporção do sentir. Por isso cale, silencie, mas sinta. Sentimento é palavra e tudo.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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