SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 13 de setembro de 2015

Palavra Solta: entardecer no cais


Rangel Alves da Costa*


As velas se recolhem, os barcos são aportados, os pescadores e viajantes se dispersam, o cais vai expressando um aspecto de solidão. O sol vai se pondo, o amarelo-avermelhado vai tomando conta do horizonte, a revoada faz seu caminho certeiro, a brisa dá lugar a um vento mais forte e constante. Pelo ar se misturam um cheiro marinho e de conchas frescas que são trazidas das águas. O zunido do vento parece canção distante, os coqueirais se embalam enquanto suas palhas farfalham em valsa. As ondas avançam e voltam, as pedras molhadas parecem vernizes derramados por cima de tudo. O silêncio não consegue se impor ante o barulho das ondas, os zunidos que passam na ventania e o canto da sereia ao longe. Uma concha ouve um segredo do vento, um caranguejo se entoca na areia. Está com medo dos passos que surgem mais além. As pegadas vão cortando a areia lentamente. Alguém caminha na fronteira das águas. Pés descalços, misteriosamente surgidos, seguem em direção a uma pedra. Senta por um instante, mas em seguida segue seu rumo de cais. Leva uma flor à mão e um olhar molhado e entristecido. Mira a distância das águas como se quisesse avistar algo que desde muito espera. Mas apenas um vulto de um barquinho ao longe. A mão solta a flor e uma lágrima se mistura às ondas. Já está tudo sombreado, quase noite. E a lua encontrará uma carta de despedida deixada na areia.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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