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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 2 de maio de 2016

Palavra Solta - quando o rio era a vida


*Rangel Alves da Costa


O São Francisco não é mais aquele rio grandioso de outro. Não é mais o caminho das águas, a estrada sertões adentro, sequer travessia da vida ribeirinha. Houve um tempo de grandes embarcações aportando, de pescadores e pescarias, de todo um comércio sendo realizado pelos seus portos e passagens. Havia a balsa, a canoa de tolda, a chata, embarcações de grande calado. Ao entardecer, nos portos e cais ribeirinhos, os moradores nas calçadas altas não queriam outra coisa senão se encantar com as águas mansas trazendo e levando vidas e sonhos. Mas tudo foi perdendo seu encanto pelo desencanto das águas. O Velho Chico emagrece, amiudou, ficou quase esquelético em muitas ribeiras. As cidades e povoações perderam seu sentido de vida, entristeceram, vivem dos lenços molhados de outrora. Ainda nas calçadas altas, agora muito mais distantes da beirada das águas, os velhos ribeirinhos procuram sinais na curva do rio e nada encontram. Vai dia e vem dia e nada de bom acontece. O nego d’água partiu, a carranca não desponta mais, as velhas histórias de encantamentos e aparições já não existem. Apenas a saudade, apenas a lembrança de um tempo onde o rio era a vida e a vida era o Velho Chico.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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