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quinta-feira, 7 de julho de 2016

Palavra Solta - o velório da solidão


*Rangel Alves da Costa


A solidão morreu. Não se sabe ao certo se ontem, em tempos outros, ou ainda nesta manhã. Mas ela morreu, a solidão se findou, repentinamente exauriu. Um alvoroço danado com a notícia, tendo gente que não queria acreditar de jeito nenhum. Outro gritou ser impossível de ter acontecido, pois a solidão estava com ele, vivia com ele, dentro de si. Mas o sino dobrou o triste badalar e então não houve mais como desacreditar do seu desaparecimento. Muita gente chorou o vazio e o mar, muita gente sorriu um sorriso imperfeito, muita gente dançou a falsa sem passo, muita gente gritou baixinho, muita gente subiu ao monte e uivou como lobão apunhalado no peito. Tudo isso pela solidão, pela morte da solidão. Contudo, fato é que absolutamente ninguém se mostrou adiante da solidão e sua morte, ninguém compareceu à sua sentinela, ninguém se fez presente no seu velório. Um silêncio sepulcral, paisagem brumosa de ventania e açoites cantantes. Ária triste, sonata em piano noturno. Sequer uma vela velando a solidão. Sozinha vivia, sozinha morreu e sozinha foi velada pela solidão. Mas qual? Aquela solidão sempre existente e que ninguém deseja aceitar como inevitável ao ser.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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