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quarta-feira, 13 de julho de 2016

SOBRE O DOCUMENTÁRIO "ZÉ DE JULIÃO, MUITO ALÉM DO CANGAÇO"


“Zé de Julião, muito além do cangaço” do cineasta Hermano Penna é exibido em Sergipe


*Do site Expressão Sergipana (12 de julho de 2016)



O Coletivo de Cultura do MST e Grupo de Teatro Raízes Nordestinas promoveram a exibição do documentário “Zé de Julião, muito além do cangaço” dirigido pelo cineasta Hermano Penna. A exibição foi realizada no último dia 09 no Teatro Raízes em Poço Redondo.
Na exibição do documentário estiveram presentes os filhos de Zé de Julião, figuras da expressão cultural sergipana e o escritor Rangel Alves, filho de Alcino Costa que relatou a saga de Zé de Julião.


No dia 27 de Julho também será exibido em praça pública na abertura da semana do cangaço em Poço Redondo. A ideia proposta pelos organizadores do evento é circular a exibição desse importante documentário por todos estado sergipano.

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Zé de Julião, muito além do cangaço

Por Hermano Penna



Em 1977 estava em Sergipe para realizar o Globo Repórter “A Mulher no Cangaço”; adentrei os sertões e cheguei em Poço Redondo. Na época uma pequena cidade, se não me engano ainda com luz de um pequeno gerador. Chegava ali por razões meramente estéticas, buscava caatingas ralas e baixas para locar as cenas de reconstituição do documentário. Mas, a vida também é feita de gratas surpresas. A pequenez da cidade contrastava com a riqueza cultural e a hospitalidade dos seus moradores. A alegria do encontro com sua gente guardava outras surpresas. Poço Redondo é o epicentro simbólico da história do cangaço. Do Poço partiram para suas hostes grande número de seus filhos e filhas. Disputa com Xorochó quem deu mais filhos para a grande gesta sertaneja, e com certeza filhas não existem dúvidas. Se em Serra Talhada nasceu Lampião, foi em Poço que o cangaço viveu o seu grande drama final, a tragédia da Gruta de Angico; mesmo que se considere como ato final as andanças posteriores de Dadá e Corisco. Aqui, como instituição o cangaço desapareceu. Em Poço morreram Lampião e Maria Bonita e muitos outros, entre eles filhos e filhas de Poço Redondo, como Enedina, a primeira esposa do nosso personagem. Tem mais, em Poço conheci Adília, ex-cangaceira do bando de Zé Sereno que viria a se tornar uma das estrela do filme junto a Sérgia Ribeiro, Dadá, que antes tinha entrevistado longamente em sua casa de Salvador. E mais, ai conheci o escritor e historiador de sua gente, meu saudoso amigo Alcino Alves Costa. E, foi dele que ouvi oralmente a história de Zé de Julião. Nesse momento, o cangaço deixou de ser um coletivo para mim e passei a ver nele a dimensão dos seus integrantes como pessoas reais em suas individualidades. grandezas e misérias. Foi ai também que nos prometemos, eu e Alcino, a realizarmos um filme sobre a extraordinária vida desse homem, que de alguma forma une os dois grandes símbolos que animam a alma brasileira, o cangaço e Brasília. O cangaço, símbolo maior da insubmissão à opressão, e Brasília, esse marco da grande utopia de uma nação democrática, justa para todos, e pela qual penosamente continuamos a lutar. Aconteceu; e não foi só um filme, são dois. Em 2012, realizei o ficção “Aos ventos que virão”. Hoje entrego ao povo sergipano o “Zé de Julião, muito além do cangaço”, documentário que busca contar a vida desse homem que os caminhos marcaram com tantas alegrias, tragédias e símbolos. Lamento que o grande amigo Alcino não tenha visto nenhum dos dois prontos. Mas, sua memória impregna cada momento desses dois filmes. Agradeço muito ao povo de Poço Redondo, que abriu suas casas para receber esse misto de cineasta e cronista das coisas brasileiras. Agradeço especialmente a Inácio Nascimento e a família Nascimento e ao saudoso amigo Zé Delino. Aos amigos Fernando Sá, Conselheiro Calos Pina, Valdilécia Santos, Beto Patriota, Antônio Leite, Antônio Amaury Corrêa, José Gilson dos Santos, meu muito obrigado.



*https://expressaosergipana.com.br/2016/07/12/ze-de-juliao-muito-alem-do-cangaco-do-cinesta-hermano-penna-e-exibido-em-sergipe/

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