SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 31 de julho de 2016

Palavra Solta - os silêncios


*Rangel Alves da Costa


Entardecer. Anoitecer. Horizonte de fogo. Sol abrasado. Cinzas afogueadas do dia. No limiar da luz e das sombras, apenas os olhos testemunhando as transformações. E também o coração pulsando saudades, memórias e relembranças. Tudo parece distante. E está. A ventania canta sua última valsa, enquanto a brisa noturna avança com sua suave canção. A lua desponta singela, sublime, quase inocente. Mas logo se faz imensa, pulsante, inebriante. Olhos e corações já não suportam as saudades. A janela é fechada. Tudo aparenta quietude, mas do silêncio chegam outros silêncios. E estes ferozes, vorazes, gritantes. Não há silêncio na vela acesa: o clamor. Não há silêncio na semiescuridão: o pulsar. Não há silêncio no coração: o grito. Não há silêncio na voz: o brado silencioso. E entre silêncios pede e clamor, roga e implora, diz que venha, diz que precisa amar. Mas apenas os silêncios molhados, sussurrados, angustiantes. Então o gotejar do vinho se derramando no copo quebra todos os silêncios. Até que a voz descortina a palavra: Deus, meu Deus, por que me abandonaste?!


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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