SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 30 de julho de 2016

Palavra Solta – um banzo, uma saudade...


 
Rangel Alves da Costa*

 

De repente me vejo como aquele escravo definhando de saudade na escuridão deplorável de um navio negreiro. O negro africano sentia uma saudade incontida de sua terra, de seu povo, de seu viver, como se dali em diante a vida houvesse perdido todo o significado, e por isso que ia definhando até morrer. E de vez em quando tenho uma saudade assim, tão profunda e melancolicamente triste que sempre imagino não conseguir aportar na margem seguinte. Contudo, não uma saudade amorosa, familiar ou pessoal, mas algo tão estranho como o próprio sentimento de se querer ter algo que não se conhece, porém tão importante na vida. Talvez o mistério das existências outras que nos chegam no espírito presente, talvez os segredos de uma mente despertada para realidades somente por ela conhecida. Não sei, não sei. Sei que na saudade surge uma janela e uma flor, surge uma porta e uma voz, surge uma árvore e uma sombra, surge uma lua e um silêncio profundo. Mas surge muito mais, principalmente uma estrada que vai se distanciando, afinando, se perdendo ao longe. Para depois surgir à mente que paz é o nome daquela estrada. Sim, talvez de paz seja a minha tão grande saudade, esse banzo que tanto aflige e atormenta.

 

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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