SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 31 de julho de 2018

A VIDA DOS SANTOS



*Rangel Alves da Costa


A santificação nada mais é que o reconhecimento da igreja pelas ações terrenas de mulheres e homens. Ninguém é santificado apenas pela obtenção da pureza, mas exatamente pela força e sentido em que se deu a separação entre o profano e o sagrado.
Ninguém já nasce santificado. Pode até nascer já divinamente predestinado à santificação, mas passando pelos mesmos atributos e forças existenciais do homem comum. O santo de agora foi um menino, foi uma menina, teve percurso na vida.
O santo chorou enquanto criança. O santo sentiu fome e sede. O santo correu descalço pelos descampados. O santo se fez traquina, teimoso, difícil de lidar. O santo comeu barro da parede, atirou pedra no gato, amarrou o rabo do cachorro. O santo foi pessoa comum.
O santo um dia se enamorou, beijou o lábio de alguém, sentiu prazer, praticou sexo. Sim, pois o santo nunca esteve impedido de fazer o que bem entendesse perante sua idade, propensão ou prazer. Até mesmo errou, pecou, praticou o socialmente inaceitável. Ora, o santo foi gente como gente comum.
Contudo, indaga-se: e quando o ser comum, a pessoa qualquer, passa a ser santo? Não há um instante onde se possa dizer que houve a separação entre o homem e o santo. Tudo nasce e envolve uma construção. Exatamente quando o ser humano vai trilhando o caminho que Deus espera de todos: ser sua imagem e semelhança.
Vai chegando um momento na vida em que a estrada humana vai sendo trilhada de modo diferente do costumeiro. A pessoa percebe que aquele seu passo não levará a lugar algum. Pensa e repensa suas ações e, por fim, escolhe para si outro destino, ainda que seja incompreendida ou afastado ou recusado pelos demais.
Quem sabe, talvez, se em certa altura da vida a luz divina não lhe recaiu como um chamado? Talvez já estivesse mesmo predestino a seguir outros passos, a fugir das impurezas e do profano, para buscar a pureza e o sagrado. A verdade é que um novo rumo na vida vai tornar aquela pessoa comum em um ser tomado de atributos sagrados.
Tomado de atributos sagrados, mas não de hora para outra. Tantas vezes, após erros e mais erros, ou mesmo após o mundanismo na vida, a pessoa vai sentindo a necessidade de tornar a feição de dor em face de amor. E então, a partir da abnegação e da luta para sempre trilhar os ensinamentos sagrados, a pessoa vai encontrando uma purificação da própria que se eleva a cada gesto e a cada passo.
Também os sofrimentos, as torturas da alma, os degredos do espírito, os exílios do ser, tudo será recompensado se as tristezas passadas adiante não sirvam como vingança ou lição do mal pelo mal sofrido. Significa dizer que mesmo a dor e o sofrimento, ao invés de endurecer a alma e o coração, apenas preparam o ser para a benevolência.
Há, pois, um limite entre a estrada do homem e a estrada santa. A estrada do homem comum e o caminho do bem, da abnegação, da benevolência, do humanismo. Quem ultrapassou aquele primeiro caminho e no novo passo sentiu a necessidade de servir ao bem e às boas causas, certamente se aproximará da santificação.
Desse modo, os santos possuem suas histórias marcadas pela abnegação e pelo amor aos ensinamentos cristãos. E por que tanto amaram e obedeceram aos ensinamentos sagrados, e por que sofreram por manter viva a chama da fé, mais tarde passam a ser reconhecidos como mártires da fé.
Algo faz lembrar aquele homem que abdicou de toda riqueza e de toda mansidão da vida para cruzar caminhos em busca de fazer o bem e ajudar o próximo. Ao invés de gritar para o próximo falava com os bichos e os pássaros, ao invés dos mundanismos procurou viver o silêncio e a brandura dos justos de alma e coração. E foi santificado.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: