SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 17 de julho de 2018

Palavra Solta - saudade danada do cabaré



*Rangel Alves da Costa


De repente me deu uma saudade danada de um bom cabaré. Não de um cabarezinho desses que tem aí, desses chinfrins molambentos que dizem ser casa de tolerância. Ora, cabaré é coisa séria. Ao menos era. Noutros idos, cabaré era algo tão importante e salutar que os noturnos passados em seu antro tornaram-se verdadeiramente memoráveis. Lugar de encontro de amigos, ambiente de bebida e dança, as grandes orquestras, as grandes vozes, as francesinhas chegadas do litoral. Que coisas mais lindas e cheias de graça. Ali, tilintando riquezas, os bigodudos senhores vendendo e comprando safras inteiras. Os coronéis cacaueiros fazendo dali uma verdadeira varanda de seus casarões. O bom uísque escorrendo pelos copos limpos, brilhosos, importados. As raparigas parecendo em desfile de moda. Não se cheirava apenas a sexo sujo e suarento, a quarto imundo e lençóis maltrapilhos e nojentos, a bebida barata e a furdunço a todo instante. Lugar de prazeres sim, mas de nobres e apetitosos prazeres. Lulu de Boyon, a cafetina, ou a mais bela das carnes novas: Cecily D’Lamour. Um viver em festa. Que saudade, pois, destes honrosos e gloriosos cabarés. Mas depois deste áureo período, nenhum cabaré se prestou sequer a dignificar o nome de puteiro social. Hoje é a rampa das vagabundagens, algo assim como Brasília, Câmara, Senado Federal e muito mais, inclusive aquela togada corte. Mas deixe pra lá.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: