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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 19 de setembro de 2010

DE AMOR E DE PEDRA (Crônica)

DE AMOR E DE PEDRA

Rangel Alves da Costa*


Isso não surgiu de repente, não apareceu como ideia que surge do nada, pois já estava latente, de certa já existia em meu pensamento, em meu querer, no meu desejo. Somente agora se fez a luz, veio a certeza, assim que você passou distante e os meus olhos num instante fizeram a grande descoberta do já existente.
É você, exatamente você, pois, a mulher que amo, que tanto esperei, que somente agora surge porque há o tempo certo para tudo acontecer na vida. Talvez eu nunca tenha lhe conhecido, nunca a tenha visto em toda minha vida, jamais sonhado um sonho tão belo. E eis que surge o sorridente destino e diz: Nada acontece por acaso!
Não sei o seu nome, não sei de onde vem, onde mora, o que faz na vida. Não sei por que passa tão bela e nem para onde vai. Mas nada disso importa, pois você é a mulher que amo e pronto. Esse dia mais cedo ou mais tarde iria chegar, e aconteceu, pois você chegou, você veio, e pronto. Agora estou pronto para o amor... Quem dera os deuses soprassem os ventos dessa certeza também em você!
Mas pouco importa que você queira me amar ou não. Pouco importa que você seja casada, amasiada, noiva, viúva, comprometida, solteira. Pouco importa que você seja freira, que tenha prestado voto de castidade, que faz da virgindade um compromisso eterno com a pureza da alma. Você sabe que alma e espírito são diferentes do corpo, mas tudo bem. Pouco importa. E pouco importa sua genética, sua hereditariedade, sua herança familiar, seu sangue, sua linhagem.
E digo mais: pouco importa seu muito ter, seu nada ter, sua riqueza ou pobreza. Pouco importa seus milhões ou tostões, se se importa com o apenas ter ou se importa com o importado. Nada disso importa. E pouco importa a sua crença, a sua fé, os seus deuses, a sua religião, o seu ateísmo, a veneração de um único Deus, a oração que reza, o anjo da guarda que lhe acompanha ou a igreja onde se ajoelha para fazer suas preces. Nada disso importa, pois você é a única coisa que realmente importa.
Tenho esperado mais de um milhão de anos para esse momento chegar. E veja como e a vida: um segundo apenas, num olhar, e você diante dos meus olhos como se o destino estivesse presente, como se a grande promessa enfim acontecesse. Contudo, o que farei agora que você chegou?
Os sábios dizem, já era prática no mundo dos deuses mitológicos e nos ensinamentos dos grandes mestres orientais que o verdadeiro homem deve-se descobrir na pedra que é, deve sentir que é pedra e agir como a pedra mais dura, mais esquecida e mais solitária que há. E isto porque somente a pedra tem o tempo suficiente para pensar em como agir corretamente. Não seria admissível um erro numa pedra que ficou pensando no que fazer e com agir durante milhões e milhões de anos.
Pareço-me pedra, ó grande sábio? Pergunte a Hefesto, deus da solidez, se o meu coração humano não é mais verdadeiro do que o sentimento da pedra? Lembra que no oriente as pedras são colocadas ao sol para amolecer seus sentimentos? Eis-me uma pedra, um ser humano tão sólido quanto a pedra que não renega um só grão daquilo que tem como verdade. E há coisa mais verdadeira que o amor? O amor numa pedra é a própria mão de Shakespeare colocando palavras na boca de Romeu.
Verdade é que vivi feito pedra esses anos todos esperando ele chegar. Mas o vento que nela bate e vem ao meu encontro dizer do seu aroma, do seu perfume, me dissolve grão a grão, até me tornar areia e pó e imperceptível poeira de amor a seguir pelos dias no encalço dos passos por onde ela caminhar.
Assim seguirei até que ela sinta a presença do amor, e de coração pulsante queira descansar ao lado de uma pedra. E a minha presença dispersa pelo ar a abraçará tão fortemente que ficaremos unidos para sempre feito pedra.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Toninho disse...

Excelente cronica do amor que se busca eternizar.E nesta eterna busca passear pelos descaminhos aridos perigosos do viver e assim numa curva qualquer a junção de seres para uma eternidade.Abraço de paz.