SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 17 de maio de 2013

SE EU TE AMO E TU ME AMAS... (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


A frase colocada como título pode ser encontrada na música “A maçã”, de Raul Seixas. Contudo, diferentemente da letra, que trata da liberdade de amar (ainda que outra pessoa) reconhecida à pessoa amada, aqui se verá outra noção do amor.
Prefiro dizer do prazer em viver e conviver a dois, da cumplicidade existente entre os que se gostam, do compartilhamento de sonhos e esperanças, da luminescência espiritual pela certeza de amar e de estar sendo amado. Ora, se a estrada da felicidade pode ser percorrida, não há que se falar em temer os espinhos próprios de todo caminhar.
Não sou conselheiro amoroso nem especialista em amor. Pelo contrário, pouco sei desse sentimento; quase nada sei sobre o que seja verdadeiro amor. Não amo porque não sei amar na medida, e o amor - que não duvide - é uma responsabilidade muito maior do que imagina um vão coração apaixonado.
Como dito, pouco posso falar de amor, mas também Ovídio, o poeta romano autor de “A Arte de Amar”, pouco soube experimentar daquilo que tanto ensinou nas letras. Shakespeare foi um amargurado; Florbela Espanca vivia desiludida. Ademais, poucos poetas de amores lastreados em versos não passaram de noctívagos melancólicos e entristecidos.
Mas a lógica desse sentimento não pode levar a outra conclusão: o amor é tudo. E sendo tudo o amor, certamente que amar é a elevação espiritual mais profunda. Êxtase da alma, exaltação do coração, enobrecimento que coloca em pedestal qualquer súdito da solidão. Tamanha a sua importância na vida do ser humano que todo mundo deveria amar. E verdadeiramente amar.
Agora vem um problema. Quando encontra o par supostamente perfeito, por que não cultivar ainda mais o amor sentido? Ao sentir prazer, alegria e felicidade por viver momentos maravilhosos junto à pessoa amada, então por que não desejar que num tempo mais distante aquele abrasamento ainda esteja queimando?
Neste passo é que surgem indagações: Se quero, por que não manter, conservar, preservar? Se amo, por que não fazer desse amor um sentimento ainda mais forte e que, duradouro, seja imbatível diante dos tantos problemas que certamente surgirão? Se tenho certeza do que quero, então por que fraquejar diante dos momentos de incertezas?
Sim, o amor existe, pois se gostam, se amam, se querem. Mas de repente, um ciúme que surge ou uma briga qualquer e tudo parece querer desabar. O sopro da discórdia sempre chega disfarçado. Por que assim, ou será que o amor sentido é descartável, consumível, perecível, e se basta todo apenas no momento da presença? Ora, se eu te amo e tu me amas...
Se eu te ama e tu amas há que se reconhecer a existência de amor. Você diz, eu confirmo; você sente, eu também; você expressa ao seu modo, eu demonstro como posso. Então não haveria que surgir qualquer dúvida da certeza, permanência e validade desse sentimento.
Se eu te amo e tu me amas, e se nessa jura íntima não há falsidade, se não há frieza e incerteza no que expressamos, então não há que temer tempestades ou vendavais, labirintos e encruzilhadas. E simplesmente porque somos muito mais fortes que as provações e as armadilhas que certamente virão.
E virão exatamente para testar nosso compromisso amoroso, nossa capacidade de união diante do inesperado, nossa força em permanecer de mãos dadas diante do forjado abismo. E se eu te amo e tu me amas, e tão verdadeiramente como demonstramos sentir, absolutamente nada será capaz de ameaçar o solidamente construído.
Desse modo, se eu te amo e tu me amas, nem precisaremos mais perguntar um ao outro sobre isso. Muito menos falar em amor, em amar, em querer, em gostar. Não precisaremos mais fazer nada disso. Sinta tudo em mim, e tudo sentirei em você.
  

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: