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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Palavra Solta: caçando passarinho


Rangel Alves da Costa*


Todo menino gosta de passarinho, e se é menino sertanejo ainda mais. Mas hoje está difícil demais até de gostar, eis que passarinho é coisa quase inexistente pelos sertões nordestinos. Noutros tempos, nos idos onde havia mata, árvores grandes, imensas copas floradas e exuberância da natureza, por todo lugar se avistava o seu voo ou seu mavioso canto. Rolinha fogo-pagô, coleirinho, sabiá, cabeça, azulão, curió, canário e muitas outras espécies, alegravam os corações da meninada matuta. Não possuíam viveiros, mas uma ou outra gaiola. Saíam logo cedinho de arapuca à mão e seguia em direção à mataria, em busca de galhagens das catingueiras e outras árvores, onde colocavam sua pequena gaiola de aprisionar passarinho. Sabiam, contudo, que apenas a arapuca armada não era garantia alguma de que um cabeça chegasse ali e caísse na armadilha. Havia uma solução para o problema: tomava emprestado um passarinho cantador e o levavam na gaiola. Esta era estendida no galho e quanto mais cantava mais chamava outros passarinhos. E ao se aproximarem caíam na arapuca. Depois, já na boca da noite, era só recolher a gaiola e a arapuca e verificar se algum desavisado havia sido aprisionado. Mas só interessava passarinho de canto bonito. Os outros eram soltos ali mesmo. Mas não era tarefa fácil obter um cantador, de bela penugem, famoso na região. Por isso mesmo que tanto insistiam em ir atrás daquele que acordasse a família já trinando pelos arredores. Preso na gaiola, mas cantando sua sina.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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