SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Palavra Solta: manhãs de quintais


Rangel Alves da Costa*


É a porta da cozinha a primeira que é aberta ao amanhecer. Assim que o galo canta e a manhã já se ilumina, eis que a porta se abre para o começo de tudo. E ali no quintal é onde tudo começa, pois nele o primeiro diálogo com o mundo, a vida, a existência. E também no quintal a árvore frutífera, o cercadinho com plantas medicinais, o poleiro das galinhas, o varal, a lavanderia, o pilão, os troncos de pau servindo de tamborete. Também o fogo de chão e a lenha protegida num quintal. As manhãs frientas são logo aquecidas pelo fogo aceso para o café. Depois de recolher os ovos, também será no fogão que eles serão misturados a toucinho de porco. O cuscuz é sempre preparado antes, de modo que o dono da casa não saia de barriga vazia para o ofício do dia. E a manhã seguindo com os mesmos procedimentos no quintal: molhar planta, lavar roupa, varrer pelos arredores, levantar o derrubado pela ventania, pequenos afazeres do dia a dia. A galinha cisca de canto a outro, os pássaros chegam para mordiscar goiaba madura, uma velha canção é entoada. Assim, primeiro sempre o quintal e depois o restante da casa. E tão doloroso é abrir uma porta de cozinha e nada encontrar que sequer seja parecido com quintal, apenas um muro diante do olhar.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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