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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Palavra Solta - na hora do pênalti


Rangel Alves da Costa*


Não há instante de maior tormento que aquele antecedendo a cobrança de um pênalti. A trave, o goleiro, a marca na cal, a bola e o jogador. Dois minutos, ou menos. Contudo, toda a parte aflitiva se inicia mesmo quando o jogador coloca a bola no local da cobrança e recua. Ao recuar dois ou três metros e até que ouça o apito do árbitro, eis o verdadeiro martírio. Os olhos miram a bola, miram o gol, sentem o goleiro, se mostram atormentados. É neste breve espaço de tempo que o mundo revirava, que tudo acontece, que os mistérios da mente iluminam ou assombram. O que pensa o jogador esperando o árbitro apitar, o que vem à mente do jogador diante da bola e do gol, o que envolve o jogador ante tamanha responsabilidade? Mesmo com estádio cheio, nada mais que um silêncio profundo envolvendo o jogador. Não ouve nada, não ouve seu nome sendo cantado ou vaiado, não ouve absolutamente nada. Espera ouvir somente o apito. E também a mais profunda das solidões. Sozinho porque se sente como num vazio, num distanciamento de tudo. Tudo depende de si, de seus pés, de seu acerto, mas sequer assimila tão grande responsabilidade. É apenas um ser que, às vezes, é simplesmente conduzido pelos deuses da bola que, impulsionando o seu corpo e colocando seu pé no local exato da bola, provocam o chute certeiro. E só retorna ao mundo depois da reação da torcida. Seja gol ou não.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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