SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 22 de abril de 2018

Palavra Solta – há um mar no telhado



*Rangel Alves da Costa


Há um mar no telhado. Há sempre um mar no telhado. Daí que há também um porto, um cais, gaivotas, águas, ondas, areias, azuis e distâncias. E triste de quem não tiver esse mar, de quem não fizer essa viagem noturna. Um mar no telhado que é imenso, que é enorme, que é infinito. E quanta viagem é feita singrando suas distâncias. Contudo, nem todo mundo tem um mar assim. Somente o tem aquele que ao deitar avista acima um telhado. Sim, a cumeeira e telhas. Não sei se é bonito o mar do forro da casa, todo esbranquiçado e sem vida. Bonito mesmo é o mar avistado lá em cima no telhado. Mar avistável e penetrável por aquele que, de olhos abertos, olha para o alto e começa a pensar, a imaginar, a refletir, a meditar. Então o telhado se transforma em cais, em porto, em água, em barco, em navio, em cais. E a viagem logo começa a ser feita, eis que o pensamento vai viajando, vai singrando, vai sumindo nos azuis e nas correntezas. De repente a pessoa nem imagina mais estar mirando o telhado. As telhas sumiram, a cumeeira sumiu. Ali somente um mar, o seu mar, a sua viagem. Até que adormeça e aporte em algum lugar.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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