SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 15 de março de 2017

Palavra Solta - minha avó me dizia, meu avô repetia


*Rangel Alves da Costa


Tanta saudade agora. Saudade da palavra, da presença sertaneja, da lição de vida, da sabedoria matuta, do dengo, do cafuné, de tudo aquilo que desde a meninice fui tecendo aprendizado através das vozes, afagos e acalantos do meu avô e da minha avó. Minha avó me dizia, meu avô repetia: “Cuidado com o mundo, cuidado com as estranhezas da vida. Não vá pela estrada de espinho nem beba água de qualquer copo. Às vezes o gafanhoto é mais bonito que a borboleta. Nunca vá pela aparência. Tenha muito cuidado”. E de novo minha avó me dizia e meu avô repetia: “Cobra ruim seca na beira da estrada esperando um calcanhar. Nunca deixe que o inimigo lhe espere para dar o bote. Siga por outro caminho e um dia, de tanto esperar, ele vai secar por si mesmo. Tenha cuidado com a curva e com o labirinto. De trás do tufo de mato pode haver uma maldade escondida. Bem assim é na vida. É preciso saber qual caminho seguir e se na beira da estrada há perigo escondido”. E de vez em quando repetiam: “Seus amigos são seu pai e sua mãe, seus amigos são seus avós e suas avôs. Nem sempre irmão é amigo, muito menos parente. Pra o desconhecido a desconfiança, mas sem esquecer que nem todo estranho possa ser ruim. Mas saiba sempre que o seu maior amigo é você mesmo. Nunca deixe de ser amigo de você mesmo. Enquanto confiar em si mesmo nada mais na vida lhe encontrará sozinho e desarmado. Acima de sua amizade, só a de Deus. Saiba que Deus é tudo”.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: