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sábado, 29 de abril de 2017

A JUSTA GREVE E O DESPREZÍVEL VANDALISMO


*Rangel Alves da Costa


O direito de greve, dentro de seus limites legais, é previsão estabelecida constitucionalmente, sendo, portanto, imperativo. Como afirmado, em consonância com os ditames legais, a todos é garantido o direito à manifestação, à paralisação, à demonstração de suas indignações.
E nada mais justo que pessoas ou categorias, descontentes com determinadas situações, invoquem para si o direito de rebelar-se, de indignar-se, de gritar sua insatisfação. Soa até como grandeza social o despertar contra as injustiças, as arrogâncias governamentais, as medidas que acabam afetando a vida população em geral e da classe trabalhadora em particular.
Como bem afirmado por alguns, somente na pressão se muda a situação. Ou ainda para outros, mesmo que não surta o efeito desejado, ainda assim toda greve será válida à medida que chega ao destinatário os sinais da insatisfação. Mesmo que os governantes costumem menosprezar os resultados das greves, basta tal manifestação para que se saiba que os cintos apertaram de algum modo.
Noutros idos, principalmente quando as botinas dos generais eram ouvidas ao longe, fazer uma greve era o desejo de multidões. Contudo, havia sentido pátrio, invocação nacionalista, ufanismo de verdade. Por isso mesmo que os novos tempos trouxeram multidões acaloradas e ávidas por soltar a voz. E soltaram tanto que muito foi conseguido através dos gritos, das caras-pintadas e das bandeiras tomando as ruas.
Logicamente que muito contrastante com a maioria das greves de agora. Tanto assim que se utiliza o termo greve geral não para paralisar o país, mas para levar às ruas partidários, fanatizados, pessoas com único intento de fazer política através da bandeira do outro. Os sindicatos, antes tão fortes e unidos nas lutas em defesa das classes trabalhadoras, agora são apenas sucursais políticas de partidos já esgotados pela desonra.
Assim, quando há o chamado para uma greve geral, certamente que as intencionalidades não são apenas de luta contra determinadas situações, mas tão somente para que o partidarismo ganhe as ruas e façam reacender chamas já ofuscadas pelos acontecimentos. Tudo como uma tentativa de ressuscitar cadáveres insepultos ou trazer à boca do povo outros gritos que não aqueles ecoando os verdadeiros motivos da greve.
Mas greve é coisa séria, é oportunidade única para que o povo expresse sua insatisfação. Como acentua a doutrina, greve é a paralisação voluntária e continuada, ou não, do trabalho, sempre realizada em defesa de interesse da classe trabalhadora e geralmente organizada pelos sindicatos das categorias. Por sua vez, greve geral - como a ocorrida nesta sexta-feira 28/04 - é aquela promovida por uma ou todas as classes de trabalhadores do país, ou mesmo parte destas, de modo a somarem forças nos seus intentos de luta.
Como bem assinala a doutrina, a greve é uma forma de protesto do trabalhador e objetiva o atendimento de reivindicações. Perante tais considerações, então se indaga: a greve desta sexta-feira, cujas aglomerações eram mais de partidários políticos e até de pessoas pagas para estarem presentes, foi uma manifestação contra as reformas trabalhista, previdenciária e demais medidas impopulares do governo, ou apenas para desqualificar o governo vigente e fazer reacender a chama morta do petismo?
Sem medo de errar, afirma-se que a greve ocorrida teve a intenção unicamente partidária, não do partido do empregado, mas do partido político mesmo. E isto se comprova por alguns fatos. Impensável que a classe trabalhadora, responsável e coerente, saia às ruas para praticar vandalismos, saques, depredações de prédios públicos, destruição do patrimônio e violências de todos os tipos. Somente os fanatizados cometem tamanhas atrocidades, somente os esquerdopatas praticam tamanha barbárie contra o que encontrar pela frente.
Ou será que os incêndios, os fechamentos de vias públicas e rodovias, os estilhaçamentos vergonhosos, os vilipêndios praticados, foram realizados pela classe trabalhadora? Quem destrói o que encontrar pela frente, quem comete invasões a prédios e órgãos públicos, quem sai às ruas com armas escondidas, com máscaras encobrindo os rostos, com instrumentos de destruição de todos os tipos, certamente não é a classe trabalhadora.
Daí que, uma greve que bem poderia ter alcançado seus objetivos de luta das classes afetadas pelas recentes medidas governamentais, acabou sucumbindo ao vergonhoso e bárbaro partidarismo. Perdeu-se uma ótima oportunidade de mostrar força. Ganhou-se a mácula da serventia aos interesses abominavelmente escusos.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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