SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 20 de abril de 2017

Sertão, meu sertão (Poesia)


Sertão, meu sertão


Cadê meu chapéu de couro, meu alforje e meu gibão?
leve essa caneta dourada e esse papel feio e de tanta letra
e me traga meu aió de cipó trançado e o meu embornal
e pergunte a Zefinha se vai botar baião-de-dois no fogão

cadê minha lua tão sertaneja e meu sol tão chamejante?
leve esse sapato brilhoso e esse terno vaidoso e egoísta
e me traga uma cuia de araçá e um punhado de quixaba
e pergunte a Joaninha se amanhã vai quarar rouba na cacimba

cadê meu tempo, minha vida, meu passo naquela estrada?
olho a ventania no varal e me pergunto se a vida é assim também
as craibeiras tardam tanto a chegar que choro a finura da catingueira
tenho tanto medo que tudo seja assim que peço meu rosário de contas

e Bastião me vem dizendo que não há mais capim nem palma
silencio porque já ouvi de Totonho que já não há mais nada lá fora
enquanto isso Delourdes canta uma velha canção para não chorar
mas não há quem não chore se o gado não berra e o galo não canta mais

sofro e choro num sertão assim castigado de braseiro sobre a terra
mas ainda assim muito mais contente que viver fingindo alegria distante
por isso deixo pra trás meu anel de doutor e toda essa minha esnobês
e vou caminhar pela terra sertão de chinelo de dedo como meu pai fazia.


Rangel Alves da Costa

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