*Rangel Alves da Costa
Em Poço
Redondo, no Sertão Sergipano do São Francisco...
Enquanto
dono de bar, o mais aborrecido e zangado do mundo. De pouca conversa, cara
fechada e palavra de pedra. Ignorante só a gota serena. Bruto só a jumenta do
finado Quelelé.
Fiado, de
jeito nenhum. Dinheiro grande pra pagar coisa pequena, ainda pior. Sentar e
ficar duas horas pra tomar uma cerveja, melhor nem ter ido. Muita conversa no
pé do balcão, arriscado até ser forçado a tomar o caminho de casa.
Muito
pé-de-cana já correu com medo. Muito pinguço já saiu de lá com o rabinho entre
as pernas. O homem não era brincadeira não. Com Nanô, o famoso Nanô do bar da
avenida, o negócio era curto: chegou, bebeu e saiu. E sem muita conversa. O
homem era tão valente e pedregoso no atendimento, que muita gente tinha até
medo de passar pela porta.
Mas apenas
o seu jeito de ser enquanto velho vendeirim de cachaça, de casca de pau, de
outras bebidas e cerveja gelada. Todo mundo sabia como ele era, como era o seu
jeito pouco amigável de atender, mas todo mundo gostava de passar ali e tomar
umas e outras, e, com muita sorte, testemunhar um sorriso, um proseado, uma
palavra amiga.
E assim
porque, na verdade, Nanô é um ser humano acolhedor e maravilhoso. Tanto assim
que a avenida ficou mais triste depois que ele fechou o bar. Já perto dos
noventa anos, mas por ele não fechava não, de jeito nenhum. As filhas que
insistiram, azucrinando que já havia chegado a hora de deixar de estar se
preocupando com cachaça e com freguês.
Mas a
verdade é que o bar de Nanô fechou e ele só é avistado vez por outra pela rua
em direção ao mercado ou repousando em cadeira na porta de casa. Não gosta,
contudo, de ficar parado. Quando pensam que ele tá sumido, está entocado pelo
quintal, mexendo numa coisa e noutra.
Enquanto
isso a atual Avenida Alcino Alves Costa (que já foi Rua dos Vaqueiros, Rua de
Baixo, Av. 31 de Março e Av. Poço Redondo) vai perdendo seu jeito antigo de
ser, seus costumes e seus principais personagens. Ainda bem que Nanô continua
entre a gente, mas muito nome importante já deixou suas calçadas, suas
moradias, sua presença.
Rua dos
Vaqueiros pelo grande número de vaqueiros ali existentes, e talvez agora apenas
uma Rua Chamada Saudade. Saudade do Bar de Nanô, do Bar Gineta, dos aboios e
das toadas, da presença constante de Abdias, Tião de Sinhá, Mané Cante, Pai Né,
Humberto, João Paulo, Ulisses, Neguinho, Ireno, Chico de Celina, Liberato e
tantos outros.
Compadre
Messias de Carmelita, que sempre estava junto com a sertanejada e hoje,
adoentado, infelizmente é presença quase esquecida na avenida, traduz, ao lado
de Nanô, o imponente e precioso significado daquela Rua Chamada Saudade.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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