*Rangel Alves da Costa
Nada de novo sob o sol. Nem subi ao alto da
escada nem permaneci no reles do chão. Olhei muito para o alto, e sempre como
se quisesse alcançar além. As dificuldades nos degraus, contudo, impediram tal
escalada. Amei e desamei. Fui apaixonado e desapaixonado. Muito beijei e também
ressequei o lábio. Tive prazer e tive dor. Na junção dos sorrisos com as
tristezas, sempre a mistura de tudo em qualquer instante. Nada havia me
prometido que não consegui realizar. Não me prometo nada. Vou apenas vivendo,
fazendo, tentando construir castelos. Alguns se mostram de areia, outros
permanecem como espelho da luta. Não comprei carro nem fiz nenhuma viagem dos
sonhos. Também eu não havia me prometido nada disso. Não enchi os meus dedos de
anéis nem perdi a conta de cifras em contas bancárias. O mesmo que eu tinha na
entrada do ano é o mesmo que continuo tendo. Não sou de mágoas, de ódios nem de
rancores. Não juntei nada disso e agora não guardo nada que me permita
revanches. Sou de paz e de concórdia, talvez suportando mais do que deveria.
Mas assim mesmo. Como diz a canção e o poema, a verdade é que eu deveria ter
vivido mais, namorado mais, brincado mais, ter sido mais menino do que sempre
fui. Eu deveria ter olhos de mais poesia, ter braços mais abertos para os
abraços, ter palavras mais amigas e mais ecoadas. Eu deveria ter feito muito
mais. Contudo, comigo levo – e sempre aberto – o Livro do Eclesiastes. Sei que
depois da alegria vem a tristeza, depois da seca vem a chuva, depois do amor
vem a solidão, depois da palavra vem o silêncio. De nada disso eu jamais pude
fugir. Esperar o melhor, sim. Desejar o melhor, sim. Mas desejar não significa
ter, apenas esperar que o melhor aconteça.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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