*Rangel Alves da Costa
Os costumes da vida diminuem e até aniquilam
as pessoas. Tá tudo errado. Não sei quem inventou essa ideia de que basta
comer, beber, andar, vestir, dormir, trabalhar, para que a pessoa já se sinta
realizada. Nada disso. Acostumaram ser assim, mas de forma errada. No cardápio
de vida se esqueceram de muita coisa, e o pior é que menosprezam as capacidades
humanas. Triste daquele que vive apenas para comer, beber, andar, vestir,
dormir, trabalhar. Triste daquele que imagina que sua vida se resume a isso, e
apenas isso. Como se nascesse apenas para comer, beber, andar, vestir, dormir,
trabalhar, e assim até morrer. Ora, ninguém é mecanizado para repetir, repetir,
repetir. Ninguém é bicho domado para se contentar apenas com isso. E a
felicidade, a alegria, o gosto pela vida, o sentimento de realização, basta-se
quando o mesmo cardápio é cumprido, todos os dias, dia após dia? Será que a
felicidade é fazer mercadinho, lavar roupa, comprar roupa nova, estar de
chinelo novo, beber cerveja ou cumprir o horário na repartição ou em qualquer
ofício? Será que a pessoa encontra sua felicidade apenas em acordar, levantar
para cumprir o cardápio da vida e depois novamente deitar? De modo algum. Tá
tudo errado. Se no passado tivessem ensinado que é preciso comer brasa e beber
esgoto, certamente até hoje seria a maior normalidade do mundo. E as pessoas
seriam felizes porque comem pedra e bebem esgoto. É preciso reinventar os
costumes da vida e o próprio viver. Não aceite mais apenas comer, beber, andar,
vestir, dormir, trabalhar. A vida é e quer muito mais. Faça você mesmo o seu
percurso na estrada e na história. Seja estranho, faça estranhezas. Não se
importe se correrem de sua presença. O normal só é normal porque foram
aceitando como normalidade. O homem não tinha panos e andava nu. O homem comia
flores e brotos do mato quando não havia caça. O homem tinha o animal como um
ser sagrado. O homem deitava debaixo da lua para dormir e sonhar. Depois é que
inventaram essa baboseira toda. E nunca mais o homem foi o mesmo. Foi
aprisionado pelo tempo, pelo costume, pelo certo e o errado, e ainda hoje assim
continua. Um nada.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário