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domingo, 21 de março de 2010

NO REINO DO REI MENINO – XL

NO REINO DO REI MENINO – XL

Rangel Alves da Costa*


A comitiva dos visitantes, que retornaria logo ao amanhecer do dia, teve que se atrasar porque na hora do embarque o velho sacerdote simplesmente havia sumido. Procuraram por todos os aposentos do castelo e nenhum sinal, sendo encontrado somente uma hora depois, totalmente embriagado, ao lado de dois duendes, alcoolizados do mesmo jeito, tomando vinho embaixo de uma árvore frondosa nos fundos da residência real.
Assim que Bernal os avistou, os verdinhos orelhudos saíram correndo aos tropeços, caindo e rolando pelos matos, deixando o sacerdote sorridente com uma garrafa na mão. Apagou num instante, e somente dois homens para transportá-lo até a carruagem. Antes de partirem, ainda abriu os olhos em direção ao pequeno rei e disse: "Não esqueça do nosso acordo, que eu quero comprar um vinhedo".
Assim que partiram, Gustavo puxou o feiticeiro pelo braço em direção a uma das entradas do castelo e disse que teriam que subir imediatamente até a torre, pois lá, sem ninguém para ouvir ou importunar, ele teria que passar aquela história todinha a limpo, nos mínimos detalhes.
O dia havia nascido com uma cor diferente em Oninem, com uma manhã de cores muito mais vivas, a natureza parecendo mais alegre, com folhas e galhos valseando ao vento, com plantas num sorriso verde que parecia o próprio paraíso. Os animais, que sempre ficavam mais afastados, corriam e brincavam pelos campos ali próximos, como se a presença dos oninenses não causasse medo e espanto. As pessoas, estas, representadas na face alegre e no leve sorrir do pequeno reino, pareciam prontas para viver novos dias de bonança, de fartura nas plantações, de segurança e paz, de desenvolvimento e prosperidade. Ao menos era isso que o menino rei esperava, mesmo tendo consciência das duras batalhas que teriam que enfrentar a qualquer instante.
Uma dessas batalhas já estava sendo travada ali na torre, fazendo a maior pressão psicológica possível para que o feiticeiro do bem contasse a verdade, sem omitir uma coisinha sequer em nome dos segredos da magia. "Mas meu rei, que força tenho eu para contar a um soberano verdades pela metade ou mentiras que encubram a verdade?", indagava assustado. "Acho melhor assim, pois do contrário...", ameaçava Gustavo. E o feiticeiro começou a destrinchar o que sabia:
- Em primeiro lugar, pequeno e assustador Gustavo, juro pelo sangue encantado de minha família, pelos meus guias e seres superiores, que não tenho nenhum envolvimento, o mínimo sequer, com o desaparecimento e surgimento da coroa em dose dupla. Não tem nenhum cabimento se pensar isso de mim, logo eu que estava botando o coração pela boca, andando feito um doido procurando essa bendita coroa. O próprio menino rei sabe que até as forças mágicas eu invoquei, e quase saio desse mundo dando até as minhas últimas forças para saber do seu paradeiro. Você mesmo sabe, menino teimoso, sobre os perigos que tive de enfrentar para ver se alguma luz me vinha à cabeça dizendo onde poderia encontrá-la. Se o que fiz não foi suficiente para prontamente atender o rei é porque reconheço minhas muitas limitações. E se a coroa não fosse encontrada e a honra do rei e do rei fosse ferida de morte, nem mesmo eu sei onde estaria agora, talvez por aí enlouquecido, jogado numa beira de estrada... – E começou a chorar.
- Não quero ver uma lágrima. Continue, continue seu paspalhão – Disse o rei, achando graça no ar choroso de Bernal.
- Em segundo lugar, e vou dizer logo, quem roubou a coroa foram aqueles danadinhos verdes das florestas. Pode castigar eles mais tarde, mas garanto que não foi propriamente um roubo, mais sim uma apropriação momentânea do que não lhes pertencia, porém com um objetivo mais que nobre, que foi o de ajudar o nosso rei e a salvar nosso reino dos problemas que está passando. E como fizeram isso, vou contar segundo eles me contaram. Tudo começou quando dois daqueles enxeridos estavam invisíveis no castelo naquele dia que você falava sobre a necessidade de vender a coroa. Com a maior cara de pau, imediatamente foram até lá em cima, atravessaram todas as portas sem mover uma chave, pegaram a coroa e sumiram mata adentro. E parte das conseqüências disso a gente sabe e sentiu na pele, mas a outra parte é que é complicada de explicar, pois diz respeito ao objetivos deles, que foi o de fazer uma cópia igualzinha da coroa, de modo que vendendo a cópia a original ficaria no castelo e o reino seria salvo. Foi essa a intenção. Mas como eles fizeram essa cópia com tanta perfeição em tão pouco tempo, utilizando os mesmos objetos preciosos contidos na original, acho que somente mesmo eles para contar, pois eu imagino como tenha sido, mas se eu abrir a boca pra contar o menino rei vai dizer que enlouqueci de vez.
- Mas louco você já é, então conte logo essa parte que deve ser muito interessante – Animou-se o menino rei.


continua...



Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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