SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 6 de março de 2010

NO REINO DO REI MENINO – XXX

NO REINO DO REI MENINO – XXX

Rangel Alves da Costa*


O relato de Bernal sobre as visões na água da bacia deixou o pequeno rei verdadeiramente atormentado. Fez de tudo para não deixar que o seu amigo percebesse, porém era impossível esconder da face tanta aflição. Não deveria estar assim, mas estava, e unicamente por causa de sua mãe, cujo perigo que poderia estar passando transtornava sua mente, que pensava em tudo, mas sabia que quase nada poderia fazer por enquanto. Nesse vão de preocupações, deitou e quase não dormiu.
Amanheceu um pouco indisposto, mas sabia que um rápido passeio pelos campos e um bom banho no córrego lhe traria de volta a energia, o encorajamento e a disposição incessante de menino. Enquanto estava se banhando percebeu que alguns duendes e gnomos conversavam com o feiticeiro nas proximidades. Era muito estranho que eles não tivessem chegado ali com estripulias e algazarra, como eram dos seus feitios brincalhões. Pelo contrário, pareciam sérios e até preocupados, dialogando como se estivessem resolvendo um problema muito importante.
Quando terminou o banho os seres da floresta já haviam partido e sem ao menos lhe dirigirem uma palavra, um aceno ou fazendo qualquer gesto para chamar atenção. Simplesmente sumiram repentinamente no meio da mata. Perguntou a Bernal o que haviam conversado tão seriamente e sabe que ele mentiu, pois disse apenas que eles vieram ali para convidá-los para uma festa que iria acontecer em breve. Nem disse qual era a festa nem foi perguntado. O pequeno rei sabia que se fizesse qualquer ameaça ele contaria tudo, mas resolveu voltar em silêncio ao castelo. Era uma forma dele saber que não estava gostando nada daquilo.
Ainda nesta manhã, no horário determinado, os seis pequenos cavaleiros auxiliares do rei: Dinadan, Galaaz, Hoel, Lucan, Lamorak e Cador, se fizerem presentes no grande salão para a reunião. Já estavam morando ali, cada um em seu aposento, aguardando que Gustavo definisse as funções que seriam exercidas por cada um. Assim que o pequeno soberano entrou, sozinho, já que havia dispensado a presença de Bernal ao encontro, todos ficaram de pé, fato que mereceu imediata repreensão, pois foram avisados que o rei queria deles mais coragem e inteligência do que gestos como aquele, que serviam somente para desviar a atenção de coisas muito mais importantes.
Enfim, começou a expor os seus objetivos com aquele encontro:
- Graças ao nosso bom Deus e a todos os deuses, para os que acreditam assim, que as coisas estão em ordem no nosso reino. Contudo, não é a paz que vai nos levar ao descuido, à desatenção. Temos que estar sempre preparados para tudo, para o melhor e para o pior que possa acontecer. Por isso mesmo quero que cada um de vocês cumpra um papel com relação a isso, conforme direi agora. Dinadan seguirá amanhã, juntamente com homens da nossa guarda, para fazer um estudo detalhado da segurança na fronteira sul e apresentar sugestões sobre o que foi observado, criando estratégias de defesa e contra-ataque em caso de ameaça de inimigos. Galaaz fará o mesmo em relação à fronteira norte, Hoel em relação ao leste e Lucan em relação à parte oeste. Já Lamorak e Cador deverão fazer o mesmo, só que dentro do nosso território, nas povoações, no castelo e seus arredores. Em cinco dias, a partir de amanhã, quero uma resposta detalhada para o que estou dizendo agora. Somente isso por enquanto, mas muita coragem e muito trabalho. Mostrem do que meninos de nossa idade são capazes de fazer, para calar a boca de muitos grandalhões por aí. Quem quiser falar alguma coisa pode ficar à vontade.
Lamorak pediu licença e perguntou:
- É verdade que os vossos pais, o ex-soberano Lucius e a rainha Lize foram presos pelo rei de Edravoc?
Surpreendido pelo questionamento, sem saber de nada sobre isso, Gustavo se sentiu totalmente fulminado. Tomou forças e perguntou:
- Como é que você sabe disso, como soube dessa notícia, veio até aqui algum mensageiro noticiar esse fato?
- Desculpe majestade, mas eu soube desse fato hoje cedinho, enquanto o rei estava passeando pelos campos. É que de repente e aparecendo do nada, como se estivessem surgindo do ar, chegaram aqui dois anõezinhos orelhudos dizendo que precisavam urgentemente falar com o rei, e como eu disse que vossa majestade não estava no momento eles disseram que o rei precisaria saber que os seus pais foram presos hoje pela manhã por um tal de Otnejon, rei de Edravoc, mas que voltariam outra hora, pois tinham que voltar para lá urgentemente.
Estavam se confirmando os maus sinais vistos por Bernal na bacia na noite passada. Deu um grito por este que apareceu num instante, até parecendo que estava escondido em algum canto daquele salão.
- Bernal, mande chamar urgentemente aquela pessoa que você encontrou para ir disfarçado até Edravoc. Preciso dessa pessoa aqui e agora, pois terá que partir sem falta, com a urgência que o caso requer – Disse o pequeno rei, nervoso, mas sem se deixar abater. E o feiticeiro, querendo fingir que não sabia de nada, perguntou desconfiado: "Qual é o caso que merece tanta urgência assim, majestade?".
- Deixe de ser descarado, seu espião safado, pois sei onde estava o tempo todo. Agora faça o que ordenei, num piscar de olhos – E voltando-se para Lamorak, falou:
- Meu bom cavalheiro, soube do fato pelo que me disseste e desde já sou grato por isso, mas da próxima vez, com assuntos urgentes desse tipo, deve me procurar imediatamente, onde eu estiver. Mas vou dar sua resposta somente agora: Tudo indica que os meus pais estão realmente presos, pagando pelo erro que ele cometeu. Mas sou filho, tenho uma mãe e a amo, por isso é que farei o que estiver ao meu alcance. Por isso fiquem em alerta. Quando tudo for devidamente esclarecido começaremos a agir.


continua...



Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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