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segunda-feira, 1 de março de 2010

NO REINO DO REI MENINO – XXIV

NO REINO DO REI MENINO – XXIV

Rangel Alves da Costa*


O mensageiro do abominável Reino de Edravoc estava dormindo a sono solto, roncando e estirado numa poltrona, quando Gustavo balançou seus ombros para que acordasse, pois o mesmo precisava partir levando a sua resposta. O homem abriu os olhos assustado, tentou se recompor e se posicionou para ouvir o que o pequeno rei tinha a dizer.
- Meu desventurado senhor, vou ser curto e grosso na resposta que vou enviar pra esse seu reizinho de meia tigela. Diga a ele que se quiser a coroa arranje dinheiro para comprar, pois ela está à venda, mas custa muito caro pra quem não tem nada e só sobrevive do que é roubado. Diga também a ele que estamos esperando que ele venha invadir nosso reino e é bom que venha mesmo, para ser derrotado aqui, pois do contrário serão esmagados lá mesmo, dentro de suas próprias terras, pois seremos nós que invadiremos e acabaremos de vez com esse reinado de ladroeira e mentiras. Não esqueça de dizer que pode esperar que mais cedo ou mais tarde vou invadir o seu reino e acabar com o seu reinado sem dó nem piedade, até mesmo porque, diante do que você me falou, temos algumas contas a acertar.
Tais foram as palavras de um rei menino que de, tão enraivecido que demonstrava estar, parecia mais um homem obstinado a lutar com todas as suas forças para atingir os objetivos que somente ele sabia quais eram. Assim, depois de receber alguns mantimentos, o emissário partiu levando consigo uma resposta que certamente o rei Otnejon, o baixinho, não gostaria de receber. Quando ficou a sós com o seu fiel escudeiro Bernal, Gustavo mandou que sentasse e ouvisse o que tinha pra dizer, num verdadeiro desabafo:
- Pelo que foi relatado por este homem, não tenho dúvida de que esse casal que se encontra naquele lugar são os meus pais. Dificilmente será diferente, pois as descrições feitas por ele não podem levar a outra conclusão. Nessas condições, seria muita coincidência que fossem outras pessoas, e você veja que se trata de duas pessoas e não somente uma. Por isso mesmo fico pensando no que devo fazer para ter essa confirmação e as conseqüências dessa confirmação, mesmo que já tenha em mente alguns passos que serão importantes. Em primeiro lugar, temos que enviar uma pessoa que já conheça os dois até esse dito reino, e mais que isso, que possa ao menos enxergar ao longe algum dos dois. Logicamente que se um estiver lá, o outro também estará. Em segundo lugar, temos que saber o que os dois pretendem neste lugar, pois não vão ficar a vida inteira ali apenas como convidados, principalmente quando estão em um lugar onde o seu governante possui as características apontadas por aquele homem, como alguém que jamais prestaria um favor sem ter em mente cobrar um preço muito alto por isso. Em terceiro lugar, temos que estar preparados para qualquer loucura que o maldito Otnejon por acaso queira fazer, pois de gente dessa espécie nunca é de se esperar coisa boa, principalmente quando ouvir a resposta que lhe enviei. Contudo, o mais importante disso tudo, como eu já disse, é saber lidar com a situação se realmente forem os meus pais as pessoas que estão nesse lugar. Quando...
E foi interrompido por Bernal, que estava completamente comovido e tentando enxugar uma lágrima que caía:
- Desculpe interromper meu rei, mas tenho certeza de que sob hipótese alguma estaria pensando, acaso confirmado que são realmente os seus pais, em tentar resgatá-los e conduzi-los até aqui, não é mesmo?
- Ora, Bernal, isso que você está dizendo não aconteceria de jeito nenhum. Imagine você que bagunça ficaria esse reino se o meu pai retornasse a ele, principalmente depois das coisas feias que ele escancaradamente fez. Ademais, depois do que ele fez ninguém pode ter mais nenhum tipo de confiança, nem eu que sou filho confiaria nele perto de uma simples jóia da coroa. O problema todo Bernal, reside em minha mãe. Quando vejo ela no meio dessa situação toda, a primeira coisa que me vem em mente é tentar protegê-la dos perigos que rondam sua presença, onde quer que esteja. Com o meu pai tanto faz, pois deu causa a isso tudo e chamou para si as conseqüências. Mas com minha mãe é diferente, pois todos sabemos que ela não passa de vítima das armações dele, que só o acompanhou porque foi forçada, que não aceitou de jeito nenhum que ele dilapidasse o reino, o abandonasse e fugisse com suas riquezas. O pior é que ela teve de abandonar o seu único filho para seguir, mesmo que forçosamente, o homem que ama, mesmo com todos os defeitos que ele possua. Daí que não tenho outra coisa a fazer...
- Fazer o que meu rei? – Perguntou Bernal ansioso.
- Daí que não tenho outra coisa a fazer senão tentar que chegue ao conhecimento dela como estou e tentar convencê-la a abandonar o meu pai com as suas loucuras e voltar para o seu lar, que é aqui ao meu lado – Disse Gustavo, sem procurar esconder que estava chorando. E após se refazer desse instante de tristeza, falou ao amigo:
- Preciso que use urgentemente de suas forças, de sua magia ou seja lá do que for, para ver como andam os dois.
E o feiticeiro do bem prontamente antecipou:
- Já me permiti fazer isso majestade, e infelizmente o que vi não foi de bom agrado, pois os dois correm sérios perigos naquele lugar traiçoeiro onde estão.


continua...



Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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