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segunda-feira, 1 de março de 2010

NO REINO DO REI MENINO – XXIII

NO REINO DO REI MENINO – XXIII

Rangel Alves da Costa*


Coisa feia, mas o mensageiro do reino desconhecido parecia nunca ter ouvido falar em etiqueta ou educação. Comia de tal forma o queijo que pedaços iam caindo pelos cantos da boca; tomava o vinho e este ia escorrendo pelo queixo; e o que é pior, chupava os dedos sujos da comida e limpava a boca na manga da camisa; era uma lambuzação só. Mas o pequenino rei pouco estava se importando com os modos do verdadeiro porco que estava à sua frente. O seu interesse se resumia naquilo que ele tinha a dizer. E foi por isso mesmo que lembrou: "Agora me conte o que te traz aqui e mais tarde terá seu repasto completo".
O indivíduo arrotou e começou a falar:
- Por trás daquelas montanhas ao sul do vosso reino, porém muito distante, existe um vasto pedaço de terras que formam o que chamam de Reino de Edravoc. Na verdade está mais para uma província desorganizada, mas como lá existe um rei, então que seja tido como tal. O soberano deste lugar, pessoa muito conhecida pela malvadeza, pela traição que impõe aos que confiam nele e pela constante sede de se aproveitar, roubar e saquear o que é dos outros, chama-se Otnejon, o baixinho. Dizem até que se tornou rei não porque tem sangue real, mas porque sua família tomou à força esse reino de um verdadeiro soberano. Assim, para manter esse seu reinado é que vive ameaçando os outros, exigindo que lhe deem grandes somas para se livrar de sua fúria e fazendo outras besteiras por aí. Agora, os olhos perigosos desse rei parece que recairam sobre o vosso reino, pois o mesmo manda avisar que se dentro de cinco dias a coroa real desse reino, e que estava no castelo dele, na posse de outra pessoa, não for devolvida, ele cercará todos os seus domínios, invadirá e não deixará pedra sobre pedra, ao menos foi isto que mandou informar. E tem mais...
Foi interrompido por Gustavo, que brincava com o seu camaleão mas de repente tomou grande interesse por um trecho da informação que estava sendo repassada.
- Calma aí, veja se pode explicar melhor o que você disse sobre a minha coroa que estava no castelo desse tal rei, mas na posse de outra pessoa. Você pode me explicar como a coroa real foi parar lá e levada por quem?
- Claro que sim, meu nobre rei. Prometi que ia contar tudo e assim vou fazer. Ocorre que há alguns dias atrás chegou apressadamente no reino um casal, parecendo fugitivos de algum grande roubo que fizeram, pois chegaram com muitas bagagens e até as características dos dois dão a entender que não são pessoas comuns, mas pessoas que tiveram instrução para alguma coisa, até mesmo para o ofício do roubo...
- E como eram os dois, na cor, no jeito, no tamanho, na idade, em tudo? Esclareça agora mesmo sobre isso que mandarei a criada trazer outro cálice de vinho – Disse Gustavo, demonstrando um interesse incomum no que poderia ouvir naquele momento.
- Falo já sobre isso meu rei, mas antes...
- Tá bom, tá bom, mandarei trazer imediatamente o seu vinho – E gritou por Bernal, que não podia responder porque estava tremendo de aflição escondido atrás da cortina. Deu outro berro e surgiu uma criada com o vinho – Agora veja se toma logo isso e fala.
- Infelizmente não vou poder lhe ajudar muito quanto a isso, pois nunca pude estar na presença dos dois e tudo o que sei é porque me disseram. Mas segundo eu soube, ele tem o porte de um verdadeiro rei, é de boa estatura, de pele embranquecida meio rosada, assim como a sua...
- E ela, a mulher, como é que ela é? – Perguntou agoniado o pequeno rei, interrompendo bruscamente o relato do emissário.
- Espere aí um pouquinho que eu lembrei que o nome dele parece que começa com "éle", de Luis, Lucas ou coisa assim. E sobre ela eu ouvi maravilhas. Dizem que ela é uma jovem senhora muito linda, de feição meiga e muito calma, é também de boa estatura, cabelos louros e o rosto bonito, assim como o seu...
Nem deixou que terminasse a descrição e gritou bem alto, para espanto do homem que bebia rapidamente o vinho: "Bernal, seu feiticeiro, saia daí detrás dessa cortina e venha aqui imediatamente, senão...". E Bernal apareceu todo assustado com aquilo tudo que tinha ouvido, pois sabia que aquelas descrições trariam grandes e imprevisíveis conseqüências.
Chamando Bernal para um lado, o rei disse baixinho:
- Avise aos meus novos assessores que teremos amanhã de manhã uma reunião muito importante. E quanto a você, depois conversaremos sobre estar ouvindo escondido as conversas particulares, mas antes disso use dos seus poderes para trazer até aqui alguns daqueles seus amigos das florestas que tenho uma missão especial para eles – E virando-se para o homem falou: "Já estou ciente de todas as informações e muito grato pelas preciosidades repassadas. Agora sente naquela mesa e pode se esbaldar. Antes de partir darei a resposta que levará para o seu rei".


continua...


Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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