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terça-feira, 5 de abril de 2016

Palavra Solta - flores de plástico


Rangel Alves da Costa*


Não há primavera, não há jardim, não há perfumes, não há flor na manhã. Não se avista, além da janela aberta, qualquer broto, pétala ou rosa em flor. Também não há caminhada matinal ou colheita de arranjo para perfumar e dar outro aspecto de vida ao lar. Mas flores existem, e muitas, de vários matizes e cores. Todas sem aroma, sem buquê, sem fragrância, sem perfume. Em cima da banquinha da sala ou da mesa, dentro de um jarro, estão as violetas, as rosas, as begônias, os lírios, os copos de leite, os girassóis. Um verdadeiro jardim num jarro. As cores turvadas pela poeira e pó, pelo descuido da casa, pela idade do plástico. É como um cenário triste, desolador, angustiante. Como uma natureza morta, as flores jazem em silêncio e solidão. Também sua dona. E esta abre sua janela para chorar saudades, para sofrer as ausências, para desejar flores e fragrâncias na sua vida. Tão desolada fica, que quando retorna sequer tem vontade de olhar na direção de seu jarro. Talvez suas lágrimas afastassem o pó e trouxessem um pouco de cor às flores sem vida nas vidas de plástico.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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