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terça-feira, 19 de abril de 2016

CONTRIBUIÇÃO AOS CONCEITOS DO CANGAÇO


*Rangel Alves da Costa


Sempre causa-nos orgulho quando um texto de nossa autoria passa a ser utilizado por autores e escritores renomados. E foi com prazer imenso que li, nesta manhã de 18 de abril, o texto “Do conceito de cangaço, cangaceiro e cangaceirismo”, de autoria de Honório de Medeiros. Mais orgulho ainda porque o meu conceito de coiteiro foi abraçado em sua integralidade, em longa fundamentação.
Dentre os autores citados no artigo estão renomados pesquisadores e cientistas sociais, tais como Luis da Câmara Cascudo (Nota sobre cangaço e cangaceiro), Heitor Feitosa Macêdo (Origem da palavra cangaço), Eric Hobsbawn (Bandidos), Gustavo Barroso (À Margem da História do Ceará), Raymundo Faoro (Os Donos do Poder), Frederico Pernambucano de Melo (Guerreiros do Sol) e Maria Isaura Pereira de Queiroz (História do Cangaço).
No debate acerca dos conceitos de cangaço, cangaceiro e cangaceirismo, a dimensão do termo “coiteiro”, tão próprio ao estudo em questão, não precisou ser cotejado entre posicionamentos diferentes, pois minha escrita sobre o tema serviu de balizamento à compreensão. Neste sentido, eis o que diz o escritor Honório de Medeiros:
“Rangel Alves da Costa diz bem o que é ‘coiteiro’[16]:
Coiteiro era o sertanejo que, mesmo não fazendo parte do bando cangaceiro propriamente dito, compartilhava do seu mundo e de sua existência. Exteriorizava os desejos e as ordens cangaceiras. Servia de elo entre a vida na caatinga e os seus arredores, incluindo pessoas e povoações. Sem o coiteiro, o cangaço não compartilhava do mundo exterior e ficava totalmente vulnerável aos ataques.
Coiteiro era o matuto chamado a colaborar com o cangaço. Nunca forçado, mas sempre disposto a cooperar. Era, a um só tempo, mensageiro, transportador de mantimentos, confidente, conhecedor e guardião de segredos de vida e de morte. Boca sempre fechada e ouvido sempre aberto, talvez fosse o seu lema. Mas nem todos, segundo dizem, cuidaram de seguir os ditames.
Coiteiro era aquele que, conhecedor de cada linha e cada canto da região catingueira, auxiliava nas estratégias de proteção cangaceira. Era o olho pelo arredor, era o cão farejando o inimigo. Logo dizia sobre a segurança do local escolhido para repouso ou alertava acerca dos perigos que estavam correndo.
Coiteiro era o bom amigo do bando que levava a carne fresca de bode, a linha e agulha para costura, o remédio e a porção, as armas e a munição, o dinheiro e outros objetos enviados ao bando; aquele que se esforçava ao máximo, e correndo todos os perigos, para que nada faltasse naquela estadia dos cangaceiros. E eram bem recompensados pelas providências tomadas. De vez em quando um anel dourado era colocado no dedo.
Coiteiro era aquele que servia o abrigo cangaceiro, o local de descanso e repouso, a moradia temporária do bando, o coito. Desse modo, tem-se então que coito era o local onde a cangaceirada se amoitava vindo de longe viagem e desejosa de algumas horas ou dias de descaso.
Assim, coito era o lugar escolhido pelo líder do bando para o merecido descanso, até que a necessidade fizesse levantar acampamento e seguir adiante. Tantas vezes numa correria no meio da noite ou a qualquer hora do dia que o vento inimigo soprasse pelos arredores.”
O artigo completo, primoroso e de fundamental importância para os estudiosos do cangaço, pode ser encontrado no seguinte endereço eletrônico: http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2016_04_17_archive.html.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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