SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 14 de abril de 2016

Palavra Solta - saudade sentida, saudade chorada


Rangel Alves da Costa*


Sentir saudade é bom, o ruim é o chorar que vem com ela, assim dizia a velha Filó depois de ter sua cadeira de balanço recolhida debaixo da amendoeira. Todo dia fazia assim, e todo dia chorava. Assim que chegava o entardecer e a ventania soprava com maior frescor, então ela pedia que alguém levasse sua cadeira até debaixo da árvore, logo adiante da casa. Sentava, mirava as roupas balançando no varal, depois deixava seus olhos se perderem no horizonte e, de repente, já começava a chorar. Não dizia a ninguém sobre o que recordava, mas a verdade é que reabria os velhos baús da memória. E dele surgiam retratos, cartas, feições, pedaços, presenças inafastáveis e inesquecíveis. Seu falecido esposo, seu pai, sua mãe, seus irmãos, seus filhos e parentes, vivos e mortos, todos faziam presença no pensamento. Recordava os tempos idos, a meninice, os tempos difíceis, as brincadeiras, as tristezas e as alegrias. Nesse velho álbum aberto, vidas reencontradas, palavras ouvidas, lembranças revividas. E dos olhos desciam as tintas amareladas, as cores ocres dos tempos distantes, as ferrugens do que não existia mais. Molhadas, choradas, sentidas, dolorosamente silenciosas como desponta a saudade.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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