SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 13 de abril de 2016

Palavra Solta - canção do amanhecer


Rangel Alves da Costa*


Depois que a lua passeia e o silêncio toma conta de tudo, então é hora de fechar a porta do casebre. Mais uma oração, pois são muitas durante o dia, deita-se para o repouso do cansaço do dia. Já está em pé quando o galo canta, bem antes disso. Ainda é negrume quando o pé alcança o chinelo e depois segue em direção ao oratório no canto do quarto. Ainda silêncio, não há barulho de chuva ou ventania. Um dia qualquer, sempre imagina. Vai em direção à cozinha e abre a porta. O quintal ainda é uma sombra, apenas. As aves começam a se alvoroçar e a descer dos poleiros. O galo, enfim, canta seu despertar. Olha para o alto e avista um céu sem novidades. Mira o horizonte e não enxerga nenhuma barra avermelhada como esperança. Mais um dia sem chuva, é o que lhe surge ao pensamento. Com uma cuia, cata um resto de água do fundo de um pote e vai jogando por cima das ervas medicinais, das plantinhas de cura. Traz o feixe de lenha e espalha a madeira pelo fogão. Coloca a chaleira, derrama o pó do café e vai atrás de um toucinho de porco. As cores da manhã já estão sobre a paisagem, a natureza faz festa, os bichos passeiam de lado a outro. Liga um radinho de pilha e uma velha canção sertaneja pontua: O cheiro da terra é doce oração, a presença divina no meu coração, pois me alegra viver no humilde sertão...


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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