SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 13 de abril de 2016

UM DIA DE BEIJO


Rangel Alves da Costa*


Como tudo tem data para ser comemorado, a exemplo do dia do perdão (18/09), dia da paz mundial (01/01), dia da liberdade (23/01) e dia dos mortos (02/11), hoje se comemora o dia do beijo. Até uma data bonita: 13 de abril, dia do beijo. E na maioria das pessoas, principalmente as mais jovens, logo vem à mente o lábio encontrando outro lábio para a expressão de algo especial.
Sobre o beijo muito já escrevi. Talvez a inexperiência em beijar, tenha-me conduzido a divagações descabidas ou imaginações puramente poéticas. Também não é fácil falar sobre o beijo do outro, seu intencionalidade e sua recompensa, e assim porque beijar é experiência única que somente aquele que beija pode traduzir. Mas comecei fazendo algumas indagações, a seguir transcritas, seguidas de considerações mais ou menos beijadas.
O que será mesmo o beijo, hein? Por que esse toque de lábio a lábio, ou de lábio na face ou na mão, tem o poder de entorpecer, de encantar, de tornar a vida numa junção de paz e felicidade? Os animais se tocam, se bicam, se buscam através de suas bocas e nunca foi registrado um grito de dor após um beijo de amor.
Tão sublime, suave e encantador é o sincero beijo, que nele se aperfeiçoa todo o amor sentido, todo o querer, todo o prazer, todo o mistério do afeto amoroso. Verdadeiramente, não há quem não saía um pouco de si, que não viaje, não voe, não se perca diante do sabor calorento, do toque macio, do arrepio que causa o lábio e sua culpa.
Doce é o percurso, o procedimento, o proceder. Um tão esperado e desejado encontro, um olhar de mar de gaivotas, um sorriso da melhor estação, uma carícia de pássaro e flor, um toque de leve onda, um abraço levemente apertado, a boca, a outra boca, o beijo...
Nenhuma ciência, nenhuma máxima sabedoria filosófica, nenhuma suposição ou hipótese tem o poder de alcançar a gênese conceitual do beijo. O que os livros dizem são fruto do pensamento e não do beijo em si, daí sua incompletude diante da força expressiva do beijar.
Os livros dizem que o beijo é o ato de chegar os lábios a alguém, tocando-os sentimentalmente; é a ação e resultado de aproximar os lábios, com leve sucção, em pessoa e em sinal de estima, amor, carinho, respeito etc. É o contato dos lábios perante outra pessoa, por amor ou afeto. Nos lábios de outra pessoa, o beijo é tido um símbolo de afeição romântica ou de desejo sexual.
Não se trata aqui de ósculo, que é o beijo dado para selar amizade ou compromisso, nem do denominado beijo de língua, lambido e sugado, que é aquele tomado de forte conotação erótica, não se contentando no toque dos lábios e praticamente adentrando na boca do outro. Não, pois o beijo aqui revelado é aquele indefinível pelo significado amoroso que possui.
Quantas vezes já nos deparamos com cenas ou imagens de alguém que de repente, numa atitude solitária e de sentimento indefinido, leva o dedo à boca, por cima do lábio, e singelamente toca-o como relembrando o sabor e o calor de outro lábio que ali esteve em inesquecível visita?
Quantas vezes, principalmente em dias de chuvas e de saudades, o lábio entristecido vai de encontro à vidraça embaçada e lá deixa o seu beijo talvez à espera do outro lábio do outro lado? E os beijos com batom na mesma vidraça em dias ensolarados? E quantas vezes o espelho do quarto foi abraçado e beijado, e não num beijo em si mesma, mas no imaginário lábio que se reflete além?
Todas estas situações são de grande importância para se buscar compreender o beijo, seu significado e alcance. Em cada situação observada houve um gesto sublime, de doçura, de encantamento. E assim é o beijo. Para quem ama, o beijo dado e correspondido, sentindo nele uma pacto de felicidade e contentamento, nada mais é do que o sorriso do coração.
Se a saudade dói, a ausência machuca, a distância remói por dentro, então resta trazer a boa recordação através daquilo que de tão sublime e forte tem o poder de fazer o outro presente. Presente no lábio, na lembrança do beijo, na doçura do beijo, no calor que sentiu, no extasiamento que ele passou, na vontade de ter o outro ali para o diálogo do lábio.
Lembrar-se do beijo, além de lembrar-se de alguém, é dançar a valsa de plumas, de brisa, de cor azul; é ouvir uma magistral sinfonia, tocar no violino do coração, seguir os passos da sonata em si maior. Beijo é poesia maior, é brilho nos versos, é rima cadenciada ao calor do toque que se corresponde. Se a boca descrever sobre o beijo, o lábio que inicia não se abre para citar o final.
Só mesmo beijando para sentir tudo isso. Mas somente amando para sentir tudo isso num beijo.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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