SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 6 de março de 2017

Palavra Solta - o mundo de Mariazinha do Doce


*Rangel Alves da Costa


Lá das terras de onde vim, num sertão esturricado de sol nas vastidões sergipanas, havia uma Mariazinha que possuía um mundo próprio. E eu agora o denomino de o mundo de Mariazinha do Doce. Sim, Mariazinha fazia doce para vender e sobreviver. Doce de frade, como se diz por lá. Todo amanhecer Mariazinha ia para a caatinga catar cabeça de frade (um cacto arredondo, de espinhos graúdos, com uma auréola avermelhada por riba) e de lá voltava com uma lata na cabeça com quatro ou cinco cactos. Ao chegar, pegava no facão e retirava espinhos e pele, deixando somente a carne branca. Depois pinicava a carne do cacto e misturava ao coco e ao açúcar, não esquecendo outros ingredientes de gosto, preparando tudo num tacho sobre fogão de lenha. Mexia, mexia, até chegar ao ponto. Em seguida despejava tudo numa bandeja e deixava esfriar. Não demorava muito e o doce já estava em cima de uma banquinha na frente do casebre de Mariazinha. Ali ela ficava o restante do dia, esperando um cliente e outro que experimentasse o seu doce de frade e depois matasse a sede na água da moringa no umbral da janela. Todo dia isso, todo dia assim, na vida e no mundo de Mariazinha do Doce. Hoje, no dia a dia salgado do tempo, Mariazinha já não está aqui, o seu doce já não adoça os bons e velhos tempos. Tudo é só saudade.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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