SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 30 de novembro de 2010

LUA NAMORADEIRA (Crônica)

LUA NAMORADEIRA

Rangel Alves da Costa*


Na minha casa há uma área verde, bem do lado que o vento bate, com plantas espalhadas e o sol de todo dia. A partir do entardecer começa um clima gostoso, com a brisa soprando e o ar aconchegante se espalhando de cima a baixo.
A rede se balança sozinha, me esperando para a leitura e os sonhos com personagens das histórias novelescas de cavalaria. Muitas vezes viajei no Roncinante, defendi castelos medievais de reis ameaçados de perder a hereditariedade do poder. É bom porque depois encontro alguma inspiração nisso para o que vou escrever.
É uma maravilha esse recanto, onde costumo dormir a noite inteira quando o tempo não é de chuva. No calor que invade os compartimentos, ter essa varanda para dormir tranquilamente, sem ser importunado por nada ou ninguém, certamente que é uma graça divina. Contudo, nas últimas noites que tenho dormido por lá coisas estranhas começaram a acontecer.
Certamente dirão que é mentira, que faz parte dos tantos sonhos ou é pura alucinação, mas a verdade é que a lua não quer mais me deixar em paz, cismou que quer namorar comigo e diz que não desiste enquanto eu não provar a lua-de-mel no meio da noite.
Tudo começou quando coloquei em cima de cadeira "As mil e uma noites" e passei a olhar firmemente para a lua bonita lá em cima, viajando com as desventuras de Shariar e Shazman e as espertezas de Sherazade, quando percebi que a lua vinha em minha direção, como se estivesse caindo lentamente, e cada vez mais bela e encantadora ao se aproximar.
Devia estar com muito sono para estar imaginando coisas. Quem já se viu uma lua sair do firmamento e vim passear pertinho onde eu estava deitado? Adormeci, mas não consegui sonhar os meus tantos sonhos de sempre, mas somente uma miragem muito distante com uma lua que se aproximava de mim e dava um beijo.
Na noite seguinte aconteceu a mesma coisa. Após a leitura e a viagem pelo mundo dos personagens, sempre voltado para a luz do luar, senti a mesma sensação de ver a lua se aproximar, descendo devagarzinho e ficar pairando sobre o meu espaço de visão. Só que dessa vez ela veio ainda mais perto, brilhava mais forte e mudava na tonalidade da luz, como se quisesse falar com seus raios que visivelmente faziam desenhos nas paredes.
Ora, só podia estar cansado demais ou começando a enlouquecer para achar que aquilo tudo estava realmente acontecendo. Para não duvidar mais da razão, fechei os olhos e adormeci para os sonhos. Mas que sonhos que nada, apenas a imagem da lua entrando pela varanda e vagueando por cima de mim, despejando sobre o meu corpo pequenas gotas de luz que só depois passei a saber para que serviam.
E desse mesmo modo no terceiro e no quarto dia, pois no quinto aconteceu realmente o inesperado. Naquela noite deitei e nem pensei mais em ler, ficando apenas voltado para o firmamento e esperando a lua fazer sua viagem, descer e ficar bem pertinho de mim. Mas naquela noite não houve lua, não houve luarar, não houve nenhum resquício da senhora da noite. Sumiu por completo, desapareceu de vez.
Era como se ela não existisse, pois as estrelas passeavam sozinhas e faziam o papel das únicas luzes existentes no negrume do firmamento. E de repente quem vem descendo em minha direção é uma estrela bonita, grandiosa, toda iluminada de encantamentos. Chegou bem pertinho e disse que tinha um recado a me dar e falou que a lua só voltaria a aparecer na noite se eu aceitasse namorar com ela.
Perguntei como aquilo seria possível e a estrela me respondeu que bastava que eu sentisse e olhasse para a noite como um grande coração apaixonado pulsando na lua.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: