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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A RAZÃO NAS PESSOAS TRISTES (Crônica)

A RAZÃO NAS PESSOAS TRISTES

Rangel Alves da Costa*


A tristeza, enquanto condicionamento psicológico, é igual em todo mundo, indistintamente. Contudo, essa mesma tristeza, enquanto forma de expressão, é bastante diversificada de pessoa a pessoa.
Tristeza, segundo os estudiosos, é um sentimento humano que expressa desânimo ou frustração em relação a alguém ou algo, é a ausência de satisfação pessoal quando o indivíduo se depara com aspectos de sua fragilidade; é a expressão psicológica que aflora quando a pessoa perde algo ou alguém de sua admiração, quando está com desânimo, frustração ou incapacidade para obter aquilo que tanto deseja. Sendo oposto da alegria, do prazer e da satisfação, chega acompanhada de abatimento, consternação, aflição, mágoa, descontentamento.
Há que se considerar, contudo, que os sintomas da tristeza são passageiros na maioria das pessoas; enquanto que em outras se tornam como latentes, permanentes e reconhecíveis por todos. Naquelas, a tristeza se vai quando a dor vai arrefecendo, as perdas vão sendo mais compreendidas, o desalento perde a razão de ser; enquanto nestas parece que nada na vida conforta, anima, acende a chama das coisas boas.
Mas há que se reconhecer que as pessoas possuem toda razão e direito de serem tristes e permanecerem como tal enquanto desejarem. Não sendo problema psicológico, não há que se pretender ver qualquer atitude errônea em quem, por exemplo, gosta de chorar pelos cantos, fica com os olhos miudinhos enxergando a solidão do entardecer, se fecha no quarto e lá permanece com seus desânimos e desalentos.
Se a predisposição é para a tristeza, então que deixe que ela mostre sua feição, sem tentar forjar motivos de alegria ou satisfação, sem tentar a todo custo que o tristonho espalhe sorrisos e mostre uma felicidade inexistente. Todas as vezes que pretendem iludir a tristeza esta se revolta a seu modo, e o que bem poderia continuar apenas como aspectos íntimos de repente pode se transformar em extrema agressividade.
Ora, se a menina terminou o namoro que já vinha desde a infância e se acha no direito de chorar à vontade, de verter suas raivas e mágoas em rios e oceanos, de sumir do mundo por alguns dias e se fechar em si pelo tempo que quiser, é inadmissível que outra pessoa chegue se intrometendo na tristeza necessária e diga palavras tais como "você vai arrumar outro muito melhor", "não fique triste por quem não valia nada não", "limpe esse rosto, lave essa cara e vá curtir a vida agora mesmo".
Cadê o respeito à dor do outro? Da mesma forma que ninguém gosta que estranhos abram sua gaveta ou seu guarda-roupa para estar olhando o que não lhe diz respeito, a pessoa que quer ficar sozinha ou chorar suas tristezas como quiser não gosta que queiram entrar para dar palpites em sua vida. A tristeza deve ser respeitada porque é própria da pessoa e ninguém vai mudar esse estado com a alegação de que a alegria é tudo na vida.
É melhor uma tristeza verdadeira ou uma falsa alegria? Quem está verdadeiramente triste está sinceramente interagindo com seus sentimentos, dialogando com vitórias e derrotas, buscando respostas para a própria existência. O mesmo não ocorre com a falsa alegria, eis que esta não passa de uma tristeza disfarçada, uma vã tentativa de ser o que não se consegue, uma mentira que poderá causar graves consequencias. Ademais, o falso sentimento é a negação do espírito.
Razão à tristeza, razão à solidão. Nada mais verdadeiro no ser humano do que o sofrimento. O resto pode ser manejado a mil propósitos, menos o sofrimento. Tão real que toda dor ensina, toda perda mostra caminhos, e toda tristeza eleva.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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