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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

MERCADO DAS FLORES (Crônica)

MERCADO DAS FLORES

Rangel Alves da Costa*


Impossível de imaginar e saber quais e quantos sentimentos estão presentes nas pessoas que caminham pelo mercado das flores. Certamente que em meio a rosas, tulipas, antúrios, gerânios, violetas e girassóis, se espalham as múltiplas faces das paixões, dos amores, dos agradecimentos e confraternizações, mas também as indecifráveis faces das dores, das angústias, das perdas, dos lutos, dos sofrimentos e das saudades.
As floristas, que não são videntes, parentas ou conhecidas, dificilmente sabem os reais motivos de a pessoa estar ali. As suas preocupações geralmente resumem-se em ter as mais belas e coloridas flores para oferecer, muitas vezes já dispostas em ramalhetes que chegam a confundir os olhos diante de tanta beleza.
Porém, a beleza de um ramalhete com flores brancas e amarelas, por exemplo, por mais que o modo de preparo e enfeite do buquê faça alegrar o coração e os sentimentos, ainda assim é a dor e o sofrimento que motiva a pessoa em estar ali, procurando um jeito de preservar a afeição ou o amor que sente por alguém que tristemente partiu.
Exemplos de pureza e perfeição e sinônimos de amor, beleza e alegria, as flores nem sempre são adquiridas neste sentido. Em certas datas não há que duvidar para o que geralmente irão se destinar. No dia de finados ou dos namorados elas estarão do mesmo jeito, sempre belas e convidativas, à espera daquelas pessoas com motivos muitas vezes tão diferentes para adquirir as mesmas rosas ou as mesmas violetas.
Porém, basta se aproximar das pessoas que visitam o mercado das flores para saber perfeitamente o que as leva até ali. Não é pela roupa, pelo andar, por estarem sozinhas ou acompanhadas, chegando de carro próprio ou caminhando, nada disso, mas sim pelo olhar e pela feição demonstrados no instante em que vão desfilando pelas bancas e observando as variedades multicoloridas.
É, pois, pelo olhar e pela feição que apresentam que se pode perceber o motivo de estarem ali para adquirir flores. Ontem o amor viajou e a casa ficou com ar entristecido e melancólico, sem lírios e violetas no jardim para que a vida se torne mais alegre. E então a face entristecida será encontrada no mercado procurando adquirir um buquê de esperança e felicidade.
O rapazinho caminha indeciso em meio às bancas, com os olhos brilhantes e o coração palpitante, quase extasiado diante de tantas variedades e com a dura e difícil missão de escolher a flor mais bonita do mundo para fazer uma surpresa à menina também mais linda mundo. Está apaixonado, os olhos brilham, o coração quer saltar, a boca indaga a um e a outro, porém não sabe qual a intensidade do vermelho das rosas da paixão.
Uma mulher vestida de luto, óculos grandes e escuros nos olhos, quase tomando quase toda a face sempre perplexa, não caminha muito para escolher e adquire uma imensa coroa de flores do campo com crisântemos e margaridas. Dali em diante somente o seu coração sabe onde vai chorar e em homenagem a quem será o pranto de saudade ou de despedida.
Muitas pessoas não procuram as flores como homenagem ou para presentear, apenas gostam de tê-las enfeitando as suas casas, quartos e ambientes de reflexão. Dizem que elas inspiram, fortalecem, trazem renovação, purificam os lugares e trazem os encantos da natureza para onde a vida está sombria.
Prefiro ter as flores onde elas nascem, crescem, onde estão agora. Prefiro caminhar pelos jardins ou pelos campos em busca de qualquer amarelo ou vermelho. Fazendo uma carícia na pétala, toco na face do meu amor e colho no coração um buquê de rosas para entregá-la em palavras, abraços e beijos.
Se o meu amor não quiser me ouvir, aí sim, farei oferendas e jogarei flores ao mar.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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