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domingo, 14 de novembro de 2010

PESSOAS BOAS (Crônica)

PESSOAS BOAS

Rangel Alves da Costa*


Talvez não aconteça com todo mundo, pois tem gente que não consegue enxergar nada de positivo à sua frente nem em lugar nenhum, mas a verdade é que existem pessoas que têm o poder de olhar para outras pessoas e, num simples reflexo, já sabem se estas possuem um caráter bondoso ou não.
Não se trata de qualificar o outro através de ideias preconcebidas, que muitas vezes podem levar ao preconceito, à discriminação e a negação do próximo pela aparência. Não. Não se trata de achar que a pessoa vista deve ser bondosa porque é idosa, é freira ou franciscano, tem a feição humildade e os olhos repletos de meiguice e doçura. Nada disso.
Aqui se trata de reconhecer o dom especial existente em determinados indivíduos que nem precisam conhecer o outro, conversar, saber seu histórico de vida, tomar conhecimento do que faz ou deixou de fazer, mas tem a noção exata se possui um caráter humanitário, de compartilhamento, de preocupação com o próximo, que não vive somente para dar sustentação aos egoísmos e vaidades da vida.
Contudo, essa possibilidade de antecipação do conhecimento do outro funciona tanto para sentir o caráter de bondade como de maldade. Não é raro pessoas afirmarem que não sabiam explicar porque, mas sentia um aspecto ruim no rosto e no jeito desse ou daquele indivíduo. Tinha alguma coisa que não lhe entrava bem, não conseguia engolir, não tinha o que fizesse ter o outro como coisa boa. E de repente tudo se confirma, bastando que aquele passe e demonstre arrogância, violência, mau-caratismo.
Na vertente bondosa funciona do mesmo modo. As pessoas de repente olham para outras e, mesmo sem que as outras percebam, começam a surgir percepções que chegam a iluminar o olhar e alegrar o coração. Então silenciosamente dizem que rosto encantador tem aquela pessoa, com o olhar e feição que não demonstram maldade alguma; refletindo humildade e jeito de quem gosta de ouvir, compreender e ajudar, compartilhar sentimentos e ser amigo fiel.
Esse lado bondoso percebido nos outros é mais corriqueiro do que se imagina. Nas ruas, nas estradas, nos mais inesperados caminhos, tais sentimentos perceptivos podem surgir. Num ponto qualquer no meio da multidão e um olhar enxerga um rosto distante e fica dizendo a si mesmo o quanto aquela pessoa deve ser boa, compreensiva, amiga, humana, do tipo que todo mundo tem vontade de conhecer para ter o prazer da amizade.
Não é raro também que nesse contexto entre o aspecto da religiosidade e do cunho espírita que as pessoas, mesmo sem perceber ou ter tal intenção, costumam dar em determinadas situações. Então uma pessoa que jamais viu ou encontrou com a outra, bate o olhar e diz que a conhece de algum lugar, que já aquela pessoa mas não lembra de onde, que tem certeza que a conhece muito bem e que ela é maravilhosa, um doce de gente e um poço de bondade, mas não recorda de jeito nenhum de onde a conhece.
Há que se dizer uma coisa sobre isso tudo, e isso pode ser reputado como o fato mais importante de tudo o que foi dito até agora. Essas afirmações e confirmações do olhar, seja para o lado bondoso ou maldoso no outro, são mais reais e verdadeiras do que imagina a vã filosofia humana. Jamais esses tipos de intuições foram negados ou contraditos. Nem serão porque estão além das meras intenções do ser humano.
Tudo nasce instintivamente em cada um, sem nenhum pré-condicionamento, e por isso mesmo é tão verdadeiro quanto a certeza de que ainda existem pessoas tão boas que a pureza do olhar não pode deixar de reconhecer.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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