*Rangel Alves da Costa
O sertão é
bom demais, então experimente o sertão. Em cor e sabor, em sentimento e viver,
em caminhar e conhecer, em adentrar num mundo que é de magia, encantamento e
beleza sem igual. Do sol grande e da lua maior ainda.
O sertão
deve, pois, ser experimentado em tudo que nele há. E uma maneira de afastar os
preconceitos, as discriminações, as ideias infundadas sobre o povo e aterra,
sobre o sertanejo e o seu chão.
Quem não o
conhece, certamente supõe inverdades. O sertão é seco sim, é sofrido sim, tem
muita pobreza sim, mas também possui feições e qualidades que a tudo isso
supera. Um sertão de histórias e sagas, de tradições e velhas raízes. A cada
passo um encontro maravilhosamente inesperado.
Experimente
o sertão vivo, o sertão de chão, de chão, da catingueira, do mandacaru.
Experimente o sertão vaqueiro, aboiador, mateiro, caçador, do mato e da cidade.
Um sertão que se abre em mil sertões em tudo que nele há.
Sertão da
enxada, mas também do gado leiteiro. Sertão da sequidão, mas também da colheita
boa e farta. Sertão dos caminhos de pedras, mas também dos beirais ribeirinhos
e suas feições tão singelas. Sertão do bicho mugindo de fome e sede, mas também
das fontes transbordantes e seus cultivos.
Experimente
viver o sertão que há em você. Experimente caminhar pelas estradas de terra
batida e chão nu, e se admirar com as flores do campo, com o alaranjado da flor
da jurubeba e o encanto da florada do mandacaru.
Experimente
o sertão que é sua casa e lar.
Experimente avistar o por do sol de uma porteira nas distâncias matutas.
Experimente sentir pulsando no coração o seu berço de nascimento.
Experimente
tomar água de moringa, matar a sede em caneca limpinha pendurada na parede de
barro, sentir o cheiro oloroso do café fervendo em fogo de chão. Experimente
viver e ter o que é seu.
Experimente
uma varanda com rede armada e um radinho de pilha cantarolando “de que me
adianta viver na cidade se a felicidade não me acompanhar...”. Ou ainda: “eu
vim embora e na hora cantou um passarinho, porque eu vim sozinho, eu a viola e
Deus...”.
Experimente
sair da cidade e ir mais adiante, pelas curvas de matos rasteiros e
catingueiras ladeadas de mandacarus e xiquexiques. Experimente ser tomado, envolvido
e abraçado, pelo entardecer sertanejo, e olhando os horizontes em cores
abençoadas benzer-se de comoção.
Experimente
fechar a porta de casa e tomar as portas do mundo-sertão. Experimente bater à
porta da casinha de beiral de estrada e prosear com Seu João e Dona Maria,
oferecer uma bala a Tiquinho e um pirulito a Lurdinha.
Experimente
o orgulho bom de ser sertanejo. Experimente estender a mão à mão calejada,
abraçar o amigo reencontrado e falar sua língua sem invenção no falar.
Experimente ser o sertanejo que há em você e não o outro que insiste em lhe
tirar a feição sertaneja.
Experimente
sentar no tamborete e ouvir e contar histórias, causos e proseados. Experimente
ser você mesmo no sertão que é todo seu. Experimente andejar por aí, como um
São Francisco sertanejo e conversar com o bicho do mato, com a pedra, com o
passarinho.
Experimente
amar seu sertão. Experimente avistar sua terra com os olhos da sabedoria, vendo
sentido em tudo e em tudo sentindo uma razão de ser e de existir. Experimente o
amor de um filho que ama a semente da qual foi brotado.
Experimente
conhecer, conviver, viver, sentir e dizer: Eu amo e tenho orgulho de ser
sertanejo!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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