*Rangel Alves da Costa
De vez em quando me vem à mente aquela cena erótica-aterrorizante, voluptuosa-bestial, sexual-diabólica, do pênis do amante sendo cortado pela amante, muito mais num rito de prazer que de mera violência, no clássico filme O Império dos Sentidos, de Nagisa Oshima. A relação entre os amantes torna-se tão intensa e obsessiva que não há limites para a busca do prazer, até se chegar à loucura de ela se apossar do membro sexual dele, numa cena brutal de sangue espargindo e de obsessão incontida, para dizer que eternamente o pertencia. Contudo, cenas assim nos acontecem todos os dias. Não pelo sexo masoquista, pela paixão brutal ou pelo amor inconscientemente incontido, mas até em fatos banais e casualidades da vida. É que nos entregamos de tal forma que acabamos tornando nossos sentidos um império de loucuras, de ensandecimento, de plena insanidade. Muitas vezes, os olhos e os sensos perceptivos dos outros julgam para dizer que não está certo fazer assim, agir assim. E estão acobertados de razão, pois passamos dos limites sem a devida percepção. Muitas vezes, perdemos totalmente a noção do erro pelo prazer do errado. O amor normal, o relacionamento normal, o sexo normal, nada disso provoca distorções nos sentidos. Porém, de repente ultrapassamos todas as barreiras da normalidade. Mata-se pela justificativa do amor. Faz traições pela justificativa da paixão. Faz coisas impensáveis pelas justificativas mais injustificadas. Tudo isso demonstra que, em certas situações, ao invés de sermos manejados pela razão, eis que acabamos totalmente domados pelos instintos. E o pior: pela cegueira dos instintos. E o pior ainda: pelo ensandecimento dos instintos mais tórridos, mais voluptuosos, mais masoquistas, mais obsessivos, mais sangrentos e cruéis que possam existir. E tudo, infelizmente, nos chegando como prazer, como necessário e incontido prazer.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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