*Rangel Alves da Costa
Atualmente,
próximo à sede municipal de Poço Redondo, no sertão sergipano, uma casinha
repousa sobre os escombros de sua história e de sua memória. Um retrato do que
ainda resta do Poço de Cima, raiz primeira do atual Poço Redondo.
Tudo
nasceu aí, na parte mais alta daquele desconhecido sertão, próximo às águas do
riachinho e permitindo uma visão de tudo o que acontecia ao redor.
Foi também
aí que se assentaram as primeiras famílias: Os Sousa, os Lucas, os Cardoso, os
Feitosa, que desencavando nas entranhas permite avistar quase uma única
família: a grande família do Poço de Cima.
Uma das
casas que continua em pé, ainda que ninguém nela resida mais, pertencente
originariamente aos Sousa, foi uma das mais imponentes da antiga povoação.
Muitas
outras ficavam nas vizinhanças, algumas com melhor estrutura e até com escravos
ao bel-prazer daqueles senhores de então. De profunda religiosidade, o
catolicismo logo ganhou altar numa igrejinha ao lado: a Capela de Santo Antônio
do Poço de Cima.
Erguida
para os ofícios da fé, também servia como lugar sagrado para os sepultamentos
dos membros daquelas famílias. Somente aqueles dos Sousa, Lucas, Cardoso e
Feitosa, podiam ser enterrados por lá.
Com
efeito, muitas sepulturas foram surgindo ao lado da capela e, no seu interior,
os jazigos de alguns importantes personagens daquela saga. Ainda hoje é possível
avistar as datas sobre as sepulturas.
A Capela
de Santo Antônio, bem como umas quatro moradias do passado (algumas já em
escombros, com o barro deitando ao chão), ainda testemunham aqueles idos do
Poço de Cima.
Contudo –
e infelizmente -, de memória e história que vão amarelar e sumir como um velho
retrato desgastado nas paredes do tempo. Com o sol e a chuva, com o calendário
do tempo, certamente que o desgaste vai colocando fim a tudo existente.
Sem
qualquer tipo de preservação, sem que se jogue ao menos uma mão de barro sobre
o que vai caindo, o que se terá será apenas a dor do vazio e de uma tão bela
saga levada no vento.
O costume
do abandono, ou de tudo abandonar pelo descaso, ainda custará muito caro à
história de Poço Redondo. Chegará um dia – ainda que o Poço de Cima fique quase
ao lado da cidade – que poucos saberão dizer onde tudo começou.
E nem
retrato restará, vez que os jovens não querem ter o trabalho de caminhar um
quilômetro e registrar ou conhecer sua própria história. Uma vez ou outra, para
efeito de trabalho escolar, algum aluno é forçado a caminhar por aqueles
caminhos e fazer algumas anotações.
Mas logo o
esquecimento, vez que não se cultiva o interesse pela preservação. Pior ainda
faz o poder público municipal, que nada, absolutamente nada, faz. Então, que tudo fique à mercê do tempo e à
força do vento!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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