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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 17 de dezembro de 2016

Palavra Solta – as tristezas mais entristecidamente tristes


*Rangel Alves da Costa


Tristezas são terríveis aflições no espírito, na alma, por todo o ser. Atormenta, extenua, remói, faz padecer, faz agonizar. Nada trás alegria, nada trás contentamento, nada provoca um sorriso de paz. Dói por dentro, dói por fora, dói por todo lugar. Tudo como se a força da vida saísse da pessoa e em seu lugar somente a melancolia, o luto, o pranto, o sofrimento infindo. São geralmente reconhecíveis pelo olhar da pessoa triste, pela feição, pelo retraimento. Eleva-se um muro, abre-se um fosso, tudo isso assim sem alcance ou possibilidade. Contudo, tristezas existem que são mais entristecidamente tristes que outras. E estas são ainda mais terrificantes por que silenciosas demais, escondidas que ficam bem lá no íntimo mais íntimo da pessoa, bem lá nos incompreendidos do âmago. Assim por que são conhecidas demais as tristezas pela perda de um ente amado, pelo adeus indesejado de um amor, pelo insucesso diante determinadas situações. Mas as outras, aquelas tristezas bem tristes, revelam-se sempre no inesperado. O menino Zezé entristeceu assim – de angústia rasgando-lhe por dentro – quando cortaram o seu pé de laranja lima. Perante a vaquinha faminta e sedenta, na magreza do couro e osso, quanto sofrimento remoendo o sertanejo. Uma traição de alguém que se gosta é como sangue jorrando em punhal. Quanto a mim, a minha tristeza mais triste sempre chega com o entardecer e vai se fazendo noturna. As sombras enluaradas trazem nostalgias e aflições. E tenho saudade de tudo. De tudo. De tudo mesmo. Do que amei e daquilo que não mais amei por não saber que amava.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com 

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